Pergunta: Então essa frase que “toda realidade é uma realidade subjetiva” não se aplica no budismo?
Monge Genshô: O mar existe independentemente de você existir. Você pode desaparecer, e o mar vai continuar. Seria um pouco absurdo pensar o contrário. Essa seria exatamente a postura dessa escola que citei, que defende a consciência apenas. Parece meio espetacular a gente dizer isso, dizer que toda existência é subjetiva, é como se pensássemos que se eu não existir todos vocês vão desaparecer porque são criações da minha mente, são criações subjetivas. Vocês sentem assim? Não sentem, porque não faz sentido. Nós desaparecemos e tudo continua.
Pergunta: Acho assim: o mar que você enxerga desaparece quando você desaparece.
Monge Genshô: Sim, isso é verdade. O mar que você pensa, aquilo que você atribui ao mar, isso sim desaparece, mas o mar em si não. Porque toda percepção, isso é inclusive um problema da semiótica, é única. Eu digo “o mar” e aí surge uma imagem de mar na cabeça de cada um, e se eu perguntar a cada um qual foi o mar que imaginaram as respostas serão distintas. Cada um tem um mar dentro da cabeça. Então no fundo a minha comunicação também é falha. Eu digo coisas e cada um aqui tem uma interpretação, de modo que é até milagroso que nó sejamos capazes de ler poesia e entender o sentimento de quem escreveu. Mas existe gente que lê poesia e não entende o que está lendo, porque simplesmente lhe falta referencial para casar com aquilo que foi dito, ou ele entende as palavras de forma diversa, para ele é como se fosse outra língua. Então existe uma comunicação possível, mas ela não é perfeita, assim como as nossas percepções de tudo são distorcidas, tudo que nós ouvimos também é distorcido. Cada um está ouvindo uma palestra diferente, não tem jeito. Por isso, em ultima análise, a experiência é intransmissível. Você não consegue transmiti-la. Só existe uma maneira: experimentar.
[Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]