Pergunta:É possível dizer que a visão da originação dependente, essa explicação do budismo, decorre de uma visão materialista?
Monge Genshô: Eu acho que ela decorre da necessidade de negar o niilismo e de negar o eternalismo, não é?
Pergunta:Mas ela não é idealista.
Monge Genshô: Não, ela não é idealista. Ela é só uma verificação de que as coisas são assim. Isto é porque aquilo é. As coisas dependem umas das outras e não são independentes, o que contraria a noção normal que nós queremos simplificar.
Nós dizemos “eu sou assim” ao invés de dizer “eu sou assim por causa de uma miríade de condições que me rodeiam – eu não sou assim por mim mesmo”. Não existe nada que você possa dizer que é como é por si mesmo, pois não há uma identidade própria, não existe uma identidade própria no universo. Não há nenhuma alma universal a qual se unir ou uma identidade qualquer no universo que planeje ou pense etc. e tal. O budismo nega isso, que vem com a negação da própria existência de um deus criador ou qualquer coisa assim. Esse é o único sistema de pensamento no mundo que tem essa visão dissolvente em relação à realidade e a qualquer coisa que você pense lá fora.
Pergunta:Ou seja, não precisa de uma visão metafísica para dizer isso. Nesse sentido dá para dizer que é materialista…
Monge Genshô: Em certos momentos, questionamos: como é que o budismo, com todas essas visões, constitui-se como uma forma de caminho espiritual e uma organização, com organizações, que você olha e são aparentemente religiosas? Mas a palavra religião não se encaixa bem no budismo.
(continua)