Budismo e Instituição

Budismo e Instituição

P: Em “Budismo sem crenças”, Stephen Batchelor comenta que o próprio Buda e seus discípulos imediatos viam a prática de seu Dharma (ensinamento) em termos exigentes mas claramente não religiosos. O que agora chamamos de “Budismo” (um termo cunhado
no Ocidente) geralmente se refere a uma religião institucionalizada posterior — e repleta de objetos religiosos internos, certezas doutrinárias, privilégio monástico, status social e mistura com autoridades políticas — que trai o espírito radical, cético e mendicante do próprio Buda. O que o senhor acha?
R: Basta observar a organização da Sangha monástica ao tempo de Buda: havia privilégio para os mais antigos e uma hierarquia dentro da Sangha, tanto que se destacava um grupo especial de discípulos e mesmo professores com seus próprios alunos. Claramente os monges eram vistos como superiores aos leigos e estes viam o ato de ajuda-los como um privilégio.
Autoridades e pessoas ricas doaram terrenos e ajudaram a comunidade financeiramente, Buda conversa com reis e governantes nos sutras. E lutas políticas aconteceram dentro da Sangha com até mesmo um contestador (Devadatta) tentando a eliminação física de Buda e a subversão da hierarquia.
Ora, dizer que houve um budismo no passado, a saber, nos tempos de Buda, não intitucionalizado, não hierárquico, distante da sociedade, sem autoridades é simplesmente projetar um anseio mítico de viés anarquista no passado idealizado, não é assim que a evidência documental fala, ela narra exatamente o contrário.
Este discurso só pode servir a uma crítica ao budismo atual como deturpado em comparação com um passado mítico, mas contraria a evidência histórica.