P: Os budistas seguem alguma ideologia? O budismo deve se engajar em lutas políticas?
R: Aconteceram muitas vezes ligações com o poder político, mas invariavelmente redundaram em decadência do Dharma. Concordo que os budistas, como indivíduos, devem tentar ser ativos, mas o Budismo como religião não o deve ser.
Um fato que marcou a história japonesa foi o que sucedeu com o Rinzai, que se tornou ligado ao império e a corte. Um mestre Rinzai, de dentro da carruagem imperial, apontou a seu discípulo em direção os monges camponeses da Soto, trabalhando no campo:
– Veja, em algumas gerações eles terão crescido e
nosso poder e orgulho se esvairá.
Aquela humildade tinha mais força que as ligações políticas que o Rinzai havia estabelecido, a predição se confirmou. Mais tarde a riqueza, a hereditariedade e conforto dos monges Soto se tornou motivo, por sua vez, para seu enfraquecimento.
Concordo com você que os budistas devem se esforçar para diminuir o sofrimento e, naturalmente, usarão as doutrinas e ideologias que acreditarem válidas. Infelizmente nenhuma delas, até hoje, sobreviveu muito tempo. As diferentes utopias vão tropeçando pela história.
Assim devem agir civilmente como pensam certo, um marxista crendo na centralização das decisões, outro liberal acreditando na liberdade mais ampla possível, o socialista crendo na intervenção estatal, e assim por diante. O que não se deve fazer é misturar o Dharma com as doutrinas políticas, usando este para atacar a globalização e a tecnologia, ou opostamente preconizar um mundo unificado e conectado.
Em qualquer hipótese, a associação fará do Dharma instrumento político de propaganda, o que diminui sua universalidade e a isenção de suas propostas.