QUANTO A ALEGAÇÃO DE QUE O BUDISMO TEM CONEXÃO COM O USO DE DROGAS COM EFEITO ALUCINÓGENO, QUAISQUER DELAS, MESMO AS MAIS LEVES, PROVOCADO POR PUBLICAÇÃO DE APOIO A MARIJUANA EM GRUPO BUDISTA:
TEXTO DE Henrique Pires
Desonestidade intelectual. Quando um cara qualquer se aproveita que o tema é de desconhecimento geral e cita coisas que não existem, finge que leu mas não leu, contraria as premissas fundamentais do que pretende defender, e depois nem sequer mostra as referências… Ele vai e inventa. E resumindo: faz mais um belo exemplo de desserviço à humanidade.
Se alguém se deparar com a postagem, gostaria de esclarecer. Dentro da perspectiva buddhista, ninguém quer ficar controlando o que outros usam. Há causa e efeito. Se alguém quer usar drogas, que conheça as consequências e tome suas decisões. E está bem.
Assim mesmo, o que também não convém é sair misturando coisas e 《tentar》vincular uma substância X a uma tradição religiosa. Sem chance. Para os seus alunos, que queriam avançar na meditação e na clareza mental, Buddha era enfático: “abstenham-se de substâncias que afetam a lucidez”. Não tem viagem nem brisa que mude o fato: no tocante ao treinamento buddhista, substâncias que embotam a mente ou afetam o fator de atenção plena não têm vez. São desaconselhadas.
Aí se vai lendo e se encontra:
1) “Buddha comia sementes de maconha antes da Iluminação…”, falso. Os sutras são unânimes em descrever suas refeições desse período como arroz e mingau trazido por devotos.
2) “na tradição chinesa usam maconha”, falso. Eu moro num templo chinês. Todas escolas do buddhismo chinês têm por base uma das versões mais completas e estritas do Vinaya (código de conduta). É inconcebível o uso de drogas em qualquer monastério do tipo.
3) “Em tradições mais abertas, como a Vajrayana utilizam”. Falacioso. Mesmo um dos professores buddhistas mais liberais e polêmicos, Chogyam Trungpa, fez história ao convencer seus alunos americanos a queimar fora toda sua maconha recitando em grupo “abandonar o autoengano, abandonar o autoengano”. Não há mestre buddhista que recomende o uso aos seus alunos – nem os mais malucos.
4) “não interfere com a filosofia de vida buddhista”, falso again. Um dos cinco tópicos básicos que Buddha pedia para todo aluno laico era abster-se de drogas e substâncias que afetam o discernimento. Tal era a base para avançar no cultivo da prática contemplativa. Logo, está no cerne das instruções e não se vê como algo questionável.
Deixo aí para quem se interessar pelo tema. Novamente, nada contra quem aprecia a droga. Apenas me espanta a incrível capacidade humana de mentir para tentar legitimar algo de sua preferência. Cuidado ao lerem textos pseudo-embasados que fingem citar mas não mostram as referências… Desonestidade intelectual correndo solta. (HENRIQUE PIRES)