5) Já que o senhor falou em voltar, poderia falar sobre o Bodhisattva?
Monge Genshô – “Satva” significa “Ser” e “Bodhi’ é “Mente Compassiva”. Em todo o Budismo Mahayana o Bodhisattva é um ideal de prática, pois é aquele que renuncia sair desse mundo para ajudar todos os seres que aqui sofrem. A idéia de Bodhisattva se contrapõe a de “Arahant ou Arhat”, que é aquele que aprendendo o Budismo trata de iluminar-se e não mais retornar. A idéia do Bodhisattva torna-se predominante após o primeiro século depois de Cristo.
Aluno – Existe nessa idéia alguma mistura cultural, porque entre os gregos havia a cultura do herói.
Monge Genshô – A interligação cultural começa três séculos antes de Cristo, porém o herói não é alguém compassivo na mitologia grega. O herói mais conhecido, Hércules, era vingativo e cometeu vários crimes. O conceito de Bodhisattva é completamente o oposto, embora haja algo de heróico nesse comportamento de renunciar ao seu privilégio para ajudar outros a escapar do sofrimento. O Bodhisattva está mais para o santo Cristão do que para o herói grego, porém, o santo procura uma salvação para si mesmo, ele deseja sair desse mundo e entrar no paraíso. Outro aspecto muito importante no Zen é que não procuramos santos, não estamos empenhados em produzir santos. Você não faz coisas erradas não porque é um santo, mas porque sabe das conseqüências para todos.
Aluno – O Bodhisattva então renuncia a ser um Buda? Ou seja, se libertou de todos os sofrimentos e não mais será atingido pelo sofrimento dos outros e dele mesmo?
Monge Genshô – Não. O estado de Buda é um estado em que não há mais o retorno. Buda está extinto como ser humano, não mais se manifestará. O Bodhisatva retorna porque deseja, existe dentro dele um impulso para retornar e num Buda esse impulso foi perdido, pois ele entende que já cumpriu todas as tarefas que poderia realizar e não vê mais separação entre si e os outros seres.