Monge Genshô: Bodhidharma chega em frente ao Imperador Wu e o Imperador pergunta – eu construí muitos templos e mosteiros para o Zen na China. Que méritos eu acumulei nos céus por causa disso? Bodhidharma responde – mérito nenhum, Majestade. Imperador pergunta então qual é a grande verdade da sagrada doutrina? E Bodhidharma responde – vazio ilimitado. Vazio quer dizer shunya em sânscrito. Quer dizer vazio de um eu. A grande verdade da sagrada doutrina é que não existe um eu inerente em coisa alguma, nem em vocês que estão sentados aqui agora. Vocês são só construções de memórias. Por isso ele responde que a grande verdade da sagrada doutrina é vazio e que não há nada que possa ser chamado de sagrado. É o que Bodhidharma responde. Não há nada disso de sagrado. Ou tudo é sagrado ou nada é sagrado. Esse ar é sagrado ou não é sagrado, é tudo a mesma coisa. Sim e não. É uma resposta profunda. O rei não sabendo o que fazer pergunta para ele – então me responda: “quem é que eu tenho na minha frente”? E Bodhidharma responde o que? “Não faço a menor ideia”. Não faço a menor ideia, é essa a resposta de Bodhidharma! E dá meia volta e vai embora.
Imperador depois escreve um poema no qual diz – “eu o vi sem ver”. Eu o vi, mas não enxerguei. Isso é a coisa mais comum, você vê mas não enxerga. Então chegamos à resposta de Bodhidharma tão difícil de entender. Quem é que tenho na minha frente? Não faço a menor ideia. Significa que ele, Bodhidharma, está livre desta noção aqui (eu). Ele se livrou disso, essa é uma resposta iluminada. Ele demonstrou sua iluminação naquele momento, mas ninguém viu.
Aí Bodhidharma vai para Shaolin. Lá passa 9 anos meditando numa caverna. Vão aparecendo pessoas querendo aprender com ele. Depois de 9 anos surge um rapaz chamado Taisô Eka, em chinês Hui-K’o. Ele fica na frente da caverna de Bodhidharma durante três dias. Bodhidharma, como sempre, não dá bola para ninguém. Sai, entra, senta, medita. Até hoje em Shaolin mostra uma sombra no fundo de uma caverna. Essa é a sombra que ficou de Bodhidharma de tanto tempo que ele ficou de frente para a parede. Aí os turistas pagam para ver a sombra de Bodhidharma. Aí, na terceira noite nevou e a neve cobriu as pernas de Hui-K’oque ficou desesperado. Então ele cortou seu braço para jurar pelo seu sangue que estava ali sinceramente. Vendo o sangue pingar na neve, Bodhidharma foi até ele achando que havia alguém ali que estava a sério em busca da verdade e perguntou: muito bem, então que você quer? Hui-K’odisse – Mestre, minha alma não tem paz. Pacifique a minha alma. Bodhidharma diz: “me mostre sua alma que eu a pacificarei”. É como perguntar, “quem é você”. Me mostra! – Não consigo. – Pronto. Já pacifiquei tua alma. Nesse momento, com essa resposta, para quem já tinha cortado o braço, passado três dias em jejum, Hui-K’o acordou de suas ilusões. E ele é o sucessor de Bodhidharma. Na minha linhagem, Bodhidharma é o vigésimo sexto patriarca e Hui-K’o é o vigésimo sétimo. Shakyamuni Buddha é o primeiro.