AS OLIMPÍADAS DO TIBET
Fernando Guedes de Mello, Om
Teólogo zen
Graças ao dogmatismo e conseqüente teimosia dos comunistas chineses, as olimpíadas, que deveriam ser de Pequim, vão se tornando as “Olimpíadas do Tibet”.
Parece que tudo começou com Karl Marx no século XIX. Para ele, a religião era o “ópio do povo”. Era uma crítica à religião que conheceu na Alemanha de seu tempo, erigida em verdade universal pelos marxistas posteriores, que não levaram em conta nem a própria afirmação de Marx, no fim da vida, de que “não era mais marxista”. Mao Tsé-Tung foi mais longe ainda, radicalizando que “religião é veneno”. Foi baseado nessa crença que ordenou a invasão e ocupação do vizinho Tibet, um país tradicionalmente religioso e pacífico.
Para Arnold Toynbee, tido como o maior historiador do século XX, o comunismo era uma nova Igreja, que arrancou do Evangelho a página da justiça social e, em torno dela, edificou o seu sistema de crença. Desse modo, tem tudo de uma religião, com sua hierarquia (o partido único), suas escrituras sagradas (O Capital, o Manifesto Comunista, o Livrinho Vermelho de Mao, etc.), seus santos (Marx, Lênin, Mao), venerados em seus mausoléus, e seus próprios rituais. A classe operária era para Marx o seu novo Messias, segundo seus críticos.
Assim sendo, o comunismo chinês tornou-se anacrônico, pois adotou uma religião européia do século XIX e que não deu certo nem na sua terra de origem, como atestou a queda do muro de Berlim em 1989. Para não ter igual destino, aliou-se ao “capitalismo triunfante”, materialista como ele, cujo dogma fundamental é o deus-lucro. O PC chinês mantém-se hoje no poder graças à repressão a tudo que imagina ser uma ameaça aos seus pressupostos “revolucionários”. A revolução cultural nos anos 70; o massacre do povo na Praça da Paz Celestial, na década de 90, assistido pela TV; e o fechamento do Falun Gong há pouco tempo, um movimento popular espontâneo de resgate de tradicionais práticas taoístas e budistas, são apenas alguns exemplos dentro da própria China. Este último cometeu o “crime” de ter mais praticantes do que membros do PC chinês. Foi considerado uma “seita perigosa”.
O que acontece hoje na China deve servir de alerta para o resto do mundo. Em primeiro lugar, porque se trata do país mais populoso do planeta e o que acontece por lá tem um peso enorme no destino de toda a humanidade. Em segundo lugar, porque, na América Latina, alguns revolucionários retardatários ainda não entenderam (ou se negam a compreender) o que aconteceu com o comunismo europeu e insistem em estabelecer por aqui aquele modelo falido de governo. E finalmente, em terceiro lugar, porque o próprio “materialismo” não faz mais sentido, pois a física moderna já demonstrou que a solidez da matéria é uma ilusão e já não pode servir mais de fundamento a qualquer hipótese científica.
A fórmula de Einstein, E=mc2, significa que tudo no universo é energia, a matéria sendo apenas uma forma de energia concentrada. Tudo é energia nas suas mais diversas manifestações, inclusive psíquicas e espirituais. A hora é, portanto, de resgate das tradições espirituais da humanidade e não de sua destruição, como faz a China no Tibet.