Pergunta: Para ser budista, a gente tem que ter fé e acreditar nos quatro selos?
Genshō Sensei: Não tem que ter fé nenhuma. Você só tem que confiar que vale a pena se sentar e praticar. Não precisa nem acreditar no que o professor ensina. Você precisa dar o passo da dúvida e pensar: “quem sabe ele tem razão! Testar! Vou experimentar!” É só isso que o meu aluno precisa fazer. Só precisa acreditar que vale a pena sentar e treinar sua mente.
Não precisa reverenciar o Buda. Não precisa fazer isso! Mas é mais ou menos, como na história de Kapleau. Kapleau chegou no mosteiro e o mestre disse: “_ ah que bom isso! Vamos acender um incenso para Kanon…” E ele disse: “O que é isso? Está acendendo incenso para uma estátua? Este não é o zen dos monges que queimam estátuas de Buda? Não é o zen do monge que cuspiu em uma estátua de Buda?” E o mestre respondeu: “É sim! Se quiser cuspir, fique à vontade! Eu prefiro acender incenso!”
Então é assim. A gente diz você não precisa reverenciar a estátua de Buda. Mas, se vem alguém aqui e não reverencia a ideia de Buda, é melhor que vá embora! Porque não está no lugar certo. Se alguém vem e diz: “eu não acredito no que o senhor está falando! O senhor só é mais um homem fantasiado de monge!” É verdade. Sou um homem fantasiado de monge. Mas, talvez, aqui não seja o lugar certo para você. Você tem que ir para outro lugar. Um lugar para esse seu tipo de mente. Porque aqui o tipo de mente é diferente. E não se pode cultivar essa mente que critica, que julga, que procura defeito em tudo. Não dá! Aqui nós temos que procurar virtude em todos! Acreditar na harmonia da Sanga. Acreditar que vale a pena fazer um zazenkai, um sesshin. E que vale a pena ouvir o professor!
Se alguém chega no zen e não gosta das regras! Não gosta do fato de que aqui não falamos palavrões, por exemplo. Então, talvez, tenha que ir para outro lugar. Onde dizem palavrões e se sentir bem. Aqui simplesmente não dá. Não há clima para isso.
Normalmente no zen, a maneira como praticamos, exclui a maioria das pessoas. É muito comum desistirem. Porque a mente está em outra sintonia.
Às vezes, a pessoa dá muito trabalho para o professor. E se você critica essa pessoa. Você está fazendo errado. A história que sempre conto é a de monja Sodō. Que foi embora duas vezes e depois se tornou monja. Não era monja na época em que foi embora, era praticante. Mas, tive uma atitude dura com ela… já não me lembro mais. Fui severo e ela explodiu. Mas depois retornou. Pronto! Está resolvido! Pode voltar, não tem problema! Porque esse é o papel do professor. Ele tem que ser severo e tem que acolher. Essa é a prática do professor. Mas ele não pode ser tolerante demais. Porque quando acontece alguma coisa errada, ele tem que ser incisivo, dizer: “aqui não! Aqui você não pode fazer isso!” É relativamente simples esse processo. Mas, na tradição do zen, nunca houve muita tolerância. E os mestres do passado eram dureza mesmo! Eles não eram nem um pouquinho fáceis.
Trecho da palestra proferida por Meihô Genshô Sensei, 31/05/2018.