(Continuação palestra de Goiânia)
Muitos anos atrás eu estava sentado na prática de zazen que a gente faz 24h seguidas, não vai dormir e fica sentado. Começa de manhã e avança até 6h da manhã seguinte, então de noite você está acabado. Alterna entre ficar sentado e o kinhin; senta 15, levanta, caminha, 15 minutos, senta novamente, e não aguenta mais. Então, quando você senta basta fechar os olhos e os sonhos vêm, e na hora você pode usar a mente para fazer perguntas. Então perguntei a mim mesmo “quem sou eu?”, e imediatamente apareceu uma árvore e um casaco sem ninguém dentro, não tinha cabeça, nem nada, o casaco caía lentamente entre os galhos de uma árvore e abri os olhos porque você pode fechar os olhos, abrir os olhos e está aqui, se você tiver esse cansaço. E anos depois eu contei esse sonho, e uma pessoa me escreveu, e me mandou uma página de um livro de Jung, “O homem e seus símbolos”, e lá dentro em uma página tem a figura do casaco sem cabeça e a explicação de que esse símbolo é frequentemente usado como representação da perda do seu próprio eu. Lembrei de uma história também, de um mestre que sonhou que não tinha cabeça e a partir desse sonho nunca mais sonhou, nunca mais se iludiu, quer dizer, a partir do momento que viu a si mesmo sem cabeça, ele compreendeu que sua identidade era vazia.
Espero que vocês tenham achado interessante esta abordagem. Levem o zazen bem a sério, a possibilidade do insight dentro do zazen é muito maior do que a gente imagina a primeira vista; é proposital a gente ficar com sono, cansado, com fome no sesshin. No mosteiro, como contei para vocês, fiquei 3 meses lá, perdi 16kg, estava sempre com fome, acordando de madrugada, sempre com fome, sempre com sono, não tinha soneca depois do meio dia, isso é camaradagem daqui (risos). E como sempre tinha trabalho, você está sempre cansado. (continua)