Aluno: Cotidianamente eu lido com crianças que sofrem violências de diferentes formas e isso tem se tornado algo que me causa profundo sofrimento, porque eu me vejo cada vez mais intolerante com quem provoca essas injustiças, mas ao mesmo tempo não quero me afastar disso porque acho que ajudar é importante. Tenho duas perguntas sobre isso, a primeira é como lidar com essa intolerância que cresce dentro de mim? E a segunda é como reconhecer o momento de aceitar e o momento de agir contra?
Monge Genshô: A segunda pergunta eu não posso responder porque você vai ter que solucionar caso a caso para saber como e em que medida reagir. Nós não estamos no mundo para não reagir, nós temos que agir determinadamente contra a agressão.
Sobre a primeira pergunta: os agressores também merecem compaixão, isso é difícil de ver, mas aqueles que cometem os crimes também têm péssimo carma e vão viver enormes sofrimentos pela frente, eles só não percebem isso ainda. Ele vai nessa vida causar sofrimento e na próxima vai ser vítima, porque vai vir para um mundo que é assim, que tem essas características e ele não pode escapar disso.
Eu conheci uma Mestre budista da África do Sul com quem eu fiz um retiro que incluía 24 horas sem dormir. Era um retiro da escola Son coreana. O pai dela foi assassinado com catorze facadas e ela foi ao julgamento ver os rostos das pessoas que o esfaquearam. Me contando depois, ela disse: “não conseguia ver nada, nenhuma consciência do que faziam”, então ela foi trabalhar na penitenciária para acordar essas pessoas que estão nesse sonho, nesse pesadelo. Eles sequer veem os sofrimentos que causam. Existem mães que batem nos filhos, que maltratam, que estão mergulhadas numa cultura de sofrimento e acham que é assim que as coisas devem ser.