Acesso ao conhecimento | Monge Genshô

Acesso ao conhecimento | Monge Genshô

Pergunta: Tenho lido estudos que a ciência cada vez mais prova a não existência de deus e a inexistência de vida após morte, ao menos assim o fim do “eu”. Por isso pergunto: será possível a ciência poder provar também a ideia do Zen de novas manifestações kármicas? 

Monge Genshō: Um autor que fala sobre essa questão é Ken Wilber. Determinadas formas de acesso ao conhecimento são limitadas ao seu âmbito, por exemplo: a mineralogia analisa as pedras, seus aparecimentos, seus formatos, mas ela não é a física de partículas dos átomos constituintes dos minerais. A anatomia estuda a forma dos seres, mas pedir a um anatomista que corte um cérebro e descubra o amor lá dentro é pedir algo que está fora de seu âmbito.

Assim também a ciência em geral tem um âmbito de atuação restrito aos seus meios de investigação e ela não tem os meios de investigação da meditação, por exemplo. Podemos no máximo fazer uma ressonância magnética e descobrir que tal cérebro parece ter mais atividade em tal área e isto é similar a tais outros cérebros em condições determinadas. Mas é isto. Nada além disso. É pedir demais da ciência que ela analise a continuidade kármica, porque são âmbitos diferentes. E nós não podemos pedir a uma forma de investigação que consiga responder sobre outra forma, como nos exemplos dados.

A ciência não investiga o amor, por exemplo, em seus estudos sobre o cérebro. Mas alguma das pessoas que me ouvem agora duvida que o amor exista? A psicologia investiga o amor, por exemplo, está no âmbito dela, mas a psicologia tem numerosas escolas, assim como o budismo tem numerosas escolas e maneiras de abordar, então não há algo definitivo como temos em análises químicas, por exemplo, onde usando os mesmo itens temos sempre os mesmos resultados. Quando falamos em coisas sutis como amor, o despertar, ou a ilusão, não temos métodos como se tem na química. Então a ciência transita numa área de conhecimento e o budismo transita em outra área.

É claro que é agradável para nós vermos que a ciência moderna descobre coisas, por exemplo, sobre o tempo que o budismo declarava 2.500 anos atrás. Isso é muito interessante, mas o budismo não precisa desse tipo de confirmação, isso é só uma curiosidade. Não é mais do que isso, não pretendemos usar a ciência para comprovar nada exatamente porque estamos transitando em trilhos diferentes.

Palestra proferida Meihô Genshô Sensei, maio de 2021.