Sempre recitamos pela manhã quando vamos colocar pela primeira vez o Rakusu ou o manto, que desejamos libertar todos os seres.
Isaiah Berlin distingue dois tipos de liberdade. A primeira é a negativa, aquela que consiste em estarmos livres externamente, por exemplo, das imposições de um estado ou de uma sociedade a volta de nós que nos impõe determinadas restrições, muitas delas corretas e justas, porque são aquelas que permitem que o homem possa viver em sociedade. Mas mais importante do que ela e o que realmente importa a nós é o segundo tipo de liberdade, a positiva.
Essa é a liberdade que consiste em estarmos livres internamente, de não sermos restringidos por crenças, por medos de quaisquer coisas, como deuses que castigam ou que premiam, ou de seres sobrenaturais que nos persigam. É a liberdade de acreditar ou negar qualquer ignorância ou superstição. Essa liberdade, a positiva e interna, é a mais importante para nós budistas, porque grande parte da obra de Buddha foi libertar os homens de crenças que os manifestavam, os imobilizavam, por medo dos deuses ou dos destinos, ou de qualquer outra coisa que só existe dentro de nossa mente.
Esvaziando a mente do homem desses receios infantis, Buddha abriu a porta de uma grande liberdade. Todos os seus ensinamentos, preceitos e recomendações existem apenas como faróis para sermos capazes de evitar sofrimentos. Para nos libertarmos e conseguirmos viver de forma plena e feliz. Nenhum deles é um mandamento ou uma ordem e toda a ética do budismo foi construída em volta de uma noção de que as ações produzem consequências. Dizendo em termos budistas: karma produz frutos e se você quiser bons frutos tem que agir, produzir karma, de forma a gerar o bem e não o mal.
Quando nos focamos no benefício de todos os seres produzimos automaticamente um bom karma. Assim, além de seguirmos uma ética bela plantamos as sementes de bons frutos.
Sentamos em zazen para nos libertarmos de todas as amarras mentais e compreendermos a profunda e sutil ética do budismo. Com a prática entendemos profundamente a liberdade que nos permite sermos ao mesmo tempo bons e livres e não seremos seres que agimos bem porque temos receio ou medo de alguma força sobrenatural que vá nos perseguir e castigar.
Essa grande liberdade mental é um dos maiores presentes de Buddha.
Teishô matinal proferido por Meihô Genshô Sensei – Fevereiro/2021.