Um haikai, do grande mestre Bashô, diz: “quando olho atentamente, vejo a nazuna ao pé da sebe”.
Um grande ponto de exclamação há dentro deste pequeno poema. A nazuna é uma flor pequena, simples e que pouco se exibe, mas o poeta quando olha atentamente a vê em sua simplicidade esplendorosa. A vida toda é assim. As flores se manifestam na sua complexidade de forma muito simples. E, se aprendemos a olhar atentamente, veremos a maravilha da sua simplicidade.
A felicidade está nas pequenas coisas e a beleza está escondida dos olhos dos que muito pensam. Na verdade, a vida é simples, e os homens a complicam com mil considerações, palavras, pensamentos, examinando e revirando os seus pensamentos, os seus sentimentos. Em lugar de ver a nazuna, que nasceu ao pé da sebe, sem ter sido plantada nem adubada, os homens querem controlar tudo, e fazem jardins pavimentados e inventam trabalho de cortar sebes, de dar-lhes formas geométricas, fazer dos jardins uma escrita da sua mente complicada.
Por esta razão, e por tanto complicar, perdemo-nos numa mente cheia de elaborações e pensamentos e, assim, não vemos mais a nazuna ao pé da sebe. Mas se limparmos nossa mente de todas as considerações e elucubrações sem fim, a beleza está ali, selvagem e intocável, à nossa disposição. Tocar a mão da pessoa amada, estender uma coberta sobre o corpo de um filho, ferver a água para fazer um chá. Mil pequenas coisas têm toda a felicidade dentro de si, são simples e belas. Nós não as vemos porque não olhamos atentamente, não esvaziamos a nossa mente.
A cada momento, durante o dia, podemos nos dar conta: a vida é simples, nós é que a complicamos.
Teishô Matinal proferido por Meihô Genshô Sensei, Daissen-virtual, outubro/2021.