Monge Butsukei: Muito obrigado Sensei. A recitação diária do Sutra de Lótus para limpeza do mau karma é uma prática budista, correto
Genshō Rōshi: Pode ser de uma determinada escola. O Sutra do Lótus é um sutra importante que foi sendo alterado muito durante tempo. Começou com quinze capítulos agora tem acho que vinte e oito porque foram sendo acrescentados novos capítulos. É um sutra relativamente moderno porque surgiu no início da era cristã mais de quinhentos anos depois da morte de Shakyamuni Buda. É, uma fonte de conhecimento, mas a simples recitação de palavras não produz sabedoria.
Monge Butsukei: O nosso eu construído, o ego, é considerado como algo ruim pelo Budismo? Viver com plenitude é um dos objetivos do Budismo?
Genshō Rōshi: O nosso eu construído é necessário para viver nesse mundo. É como uma fantasia que nós vestimos para entrar num baile à fantasia. Com a fantasia nós podemos entrar no baile. Sem a fantasia não. É a mesma coisa que tentar viver no Brasil sem carteira de identidade, sem CPF. Fica tudo muito complicado e difícil. Não quer dizer que o seu CPF seja algo mágico, uma identidade especial, tenha poderes sobrenaturais, não? Não é isso. É só um número. O nosso eu também é assim. Nosso nome também é assim. Nossos pais nos dão nomes, assim como o governo nos dá CPF. E nós andamos pelo mundo dizendo que nós somos aquele nome que nos deram e não é verdade. Nós somos alguma coisa mais. Mais fundamental do que um nome ou um corpo que anda. É isso que nós devemos ter em conta.
Monge Butsukei: Viver com plenitude é um dos objetivos do Budismo?
Genshō Rōshi: Viver com plenitude é uma coisa muito boa, mas não posso dizer que seja o objetivo do Budismo, porque o objetivo do Budismo é libertar-se. E inclusive viver aprisionado nas paixões, desejos e ambições normais do ser humano não é mais nada do que uma forma de aprisionamento.
Monge Butsukei: Como o Budismo vê a busca de proteção energética para outros humanos?
Genshō Rōshi: Nós temos que entender primeiro o que é proteção energética. Na verdade, nós estamos nesse mundo interferindo nele e podemos ajudar outras pessoas de múltiplas formas, mas falarmos em quaisquer coisas que não são comprováveis empiricamente não é muito sábio porque se acreditarmos que rezar de uma determinada forma vai ajudar outra pessoa nós estaremos acreditando que as orações têm poderes mágicos. E as orações não tem poderes mágicos elas mudam a nós mesmos que estamos com boas intenções. Mas se formos lá e realmente ajudamos outra pessoa de verdade, isso realmente vai funcionar. Lembrem que se alguém está muito doente e milhares de pessoas rezam por ele parece que isso não altera nada lá para aquela pessoa doente. Ou ela se cura ou ela morre. E as pessoas sempre vão dizer se se curou foi porque um Deus quis. Se morreu foi porque um Deus quis. E acham então que existe uma divindade que interfere na Terra, mas os fatos não parecem corroborar isso. Se houvesse uma divindade com capacidade de interferir na Terra, pararia as guerras por exemplo e não é isso que nós vemos acontecer.
Resposta proferida por Genshō Rōshi na live sobre “Como ser budista”, do canal Sobre Budismo, durante o ano de 2022.