Aluno: Como é possível se conectar sem se apegar e não se apegar sem que tudo se torne irrelevante?
Monge Genshô: Na verdade todas as coisas são irrelevantes. Diga-me uma coisa verdadeiramente relevante.
Aluno: A vida.
Monge Genshô: A vida é relevante. No entanto, o que a vida é se não, a cada momento, a própria morte? Você a todo o momento está morrendo. Quando você se levanta de manhã e olha no espelho, vê o trabalho da morte, não é? Mais uma ruga, mais um dente que está caindo. É assim, não é? Nós pensamos que somos relevantes, mas não somos. Estou falando a uma plateia de condenados à morte, só que ninguém sabe o tamanho da corda que está pendurada no pescoço – estamos todos caindo de um precipício, e daqui a pouco para um de nós aqui a corda estica. Nós não sabemos qual de nós vai morrer primeiro.
Eu recebi um convite para o aniversário do meu irmão. Ele vai fazer 70 anos. Isso quer dizer que daqui a pouco eu vou fazer também. Qual é a expectativa média de vida no Brasil? 73 anos. Na média, daqui a três anos eu estarei morto. Nós não sabemos. A vida é relevante? Nada é mais relevante do que se libertar de todo o medo, agonia, porque, do contrário, o que sobra?
O planeta vai acabar, a vida vai acabar, a nossa raça humana vai acabar. A Terra já sofreu cinco grandes extinções, e uma extinção um dia virá para nós. Quem sabe daqui a 200 anos todos nós já não seremos obsoletos e seremos substituídos por seres mecânicos que nós mesmos tenhamos criado… Seres meio mecânicos e meio inteligentes, com capacidades de raciocínios superiores que digam: olha só como há 200 anos eles eram primitivos!