Se alguém diz que Buda reencarnou está dizendo uma grande tolice, porque por definição Buda extinguiu-se e essa é a realização dele. A realização não é continuar, não é ir para o jardim celeste encontrar mamãe. A realização é ser um com todas as mães que já despertaram, é voltar para a natureza fundamental, por isso a pergunta do Paulo tem sentido, o cristianismo diz: unir-se com deus, e isso é a mesma coisa. Só não usamos, no budismo, esta palavra “deus” porque ela está cheia do conceito de personalidade, de individualidade, de um criador, de um ser separado. Convencionou-se usar no budismo a palavra vazio, mas vazio não é nada, tão pouco é alguma coisa. Então, como diz o Sutra do Coração: “o vazio se manifesta na forma”, nós somos manifestações do vazio, nós somos formas. É assim que o vazio se manifesta todo o tempo. Uma imagem que eu gosto de usar é: o mar se manifesta com ondas, se você tirasse todas as ondas com uma lâmina muito fina, imediatamente embaixo haveria uma nova camada que ondularia e teria de novo aparência, porque a única maneira dele se manifestar é tendo superfície. Você pode tirar a superfície, mas sempre há outra superfície. Nossa perdição é a nossa autoconcepção de estarmos separados, se não estivéssemos separados seríamos a totalidade e não somos a totalidade porque acreditamos na nossa ego entidade. Esse é todo o tema fundamental do Sutra do Diamante, que corta as ilusões. (continua)