Em todas as posições sentados no chão, ter os joelhos encostados no solo é importante para mantermos a espinha reta. É mais difícil se, por acaso, elevamos os joelhos – e por isso tantas posições como a birmanesa, meio lótus e lótus, que são as posições encontradas nas estátuas de Buddha mostram os joelhos encostando no chão. Uma almofada, suficientemente alta, permite que fiquemos confortáveis e com a espinha ereta.
Quando deixamos a espinha ereta, deixamos se formar a curvatura lombar, projetando o abdômen para a frente e respirando abdominalmente, deixando o diafragma descer e o ventre se dilatar. Isso permite uma respiração profunda e passa ao cérebro a mensagem de “não há perigo”. Só quem está assim relaxado são os que não estão tensos. E, por esta forma, usamos o corpo para relaxar a mente, assumindo uma postura de calma. O corpo, então, serve de âncora para a mente.
Outro ponto importante é a cabeça, que não deve pender para a frente, nem para os lados, nem para trás, para que a coluna cervical fique reta, e a nuca alinhada com as costas. Recolhemos um pouco o queixo e o nosso olhar repousa naturalmente para baixo. Não se preocupem em cerrar os olhos ou abri-los ou não piscar. Nada disso é necessário. Basta olhar para baixo, e, naturalmente, os olhos ficarão semicerrados.
Não focamos em nada, e, assim, não prestamos atenção em detalhes da parede à nossa frente. Não é necessário focar, e a opção de usar ou não óculos é livre, de acordo com seu conforto.
Para os que se sentam ajoelhados, na posição de seiza, em banquinho ou usando o zafu colocado na vertical, o ideal é simplesmente ajoelhar-se. A parte dianteira das pernas fica sobre o zabuton ou o acolchoado em que estivermos sentados, o peito dos pés repousa naturalmente no solo. Há uma pequena diferença entre homens e mulheres. Homens, normalmente, sentem-se mais confortáveis com os joelhos um pouco separados e as mulheres, normalmente, sentem-se bem com os joelhos unidos. Prestamos atenção em toda a musculatura do rosto das costas, relaxando conscientemente todos os músculos que não são necessários para ficarmos eretos.
Uma posição correta é bastante estável e é possível ficar nela durante muito tempo imóvel.
Sentar-se em cadeira também é viável, embora haja certa perda pelo centro de gravidade estar mais alto e ser um pouco mais fácil oscilarmos para um lado e para o outro. Mas, sentados em cadeira, os princípios são os mesmos: os pés confortavelmente apoiados no chão, a cadeira suficientemente alta para que os joelhos fiquem um pouco mais baixos do que o quadril, e as outras instruções são exatamente as mesmas. Não devemos nos recostar, pois isso tira a postura ereta da sua exigência e facilita adormecer.
A postura mental deve ser retornar para este momento, ouvir os sons do agora. A porta dos sons é a mais fácil. Ouvir os sons sem julgá-los, criticá-los, observá-los ou esperar por eles; simplesmente deixar que eles cheguem e nos atravessem, ser um com eles. Pensamentos surgem normalmente. À medida que aprendemos a sentar em zazen, o ritmo dos pensamentos que se apresentam diminui. Se a postura e a estabilidade e a calma forem boas, você terá até dificuldades de lembrar que pensamentos passaram em sua mente. Embora tenham flutuado e passado, não chegaram a perturbá-lo. Esta é a postura ideal: ser como o céu azul e não ser perturbado pelas brancas nuvens que passam.
Quando os pensamentos se apresentam, não encadeamos novos pensamentos a partir deles. Simplesmente olhamos para baixo, ouvimos os sons do presente, retornamos para cá. Mil vezes retornamos para cá! Se fizermos isso disciplinadamente, com o tempo surgirão espaços em que simplesmente nada acontece. Pensamentos não flutuam, mas você está consciente desse momento: está ouvindo, vendo, mas nada está acontecendo. No início pode ser que isso dure apenas segundos. Não se preocupe, não se critique, não pense se o zazen é bom ou ruim: simplesmente persista. Com o tempo, aprenderá a colocar a mente nesse estado, nada fazendo. Então, surgirão estágios chamados Estágios de Dhyana. O primeiro é este que estou descrevendo: nada está acontecendo. O segundo estágio vai ser caracterizado por uma sensação de alegria calma, um contentamento, um estado muito agradável. Algumas pessoas pensam que é uma experiência iluminada, mas não. É simplesmente o segundo estágio de Dhyana. Esses estágios de Samadhi são descritos nos textos em oito passos. Falaremos então, aqui, apenas do primeiro e do segundo.
Não ambicione, nem tente permanecer, nem tente alcançá-los. Siga as instruções, permaneça como no primeiro. Se se acalmar o suficiente e a mente repousar, o segundo surgirá espontaneamente. Se você tentar chegar lá, não conseguirá. E assim será em todos os passos seguintes. Não coloque sua vontade, ambição, desejo de chegar a lugar algum. Simplesmente, sente-se, confie na postura.
Teishô Matinal proferido por Meihô Genshô Sensei, maio de 2021.