Então o que é a lucidez da iluminação? O que é trazer luz, desde a iluminação? Não é o niilismo de dizer, em última análise, que você não existe. Ao contrário, é dizer: sim! Você existe! Mas você é um fluxo, um movimento dentro de um universo muito amplo, e esse fluxo em movimento não é facilmente destruído – ele continua por muito tempo! Só que todos esses fluxos são interdependentes. Nós somos dependentes das plantas, da atmosfera, da existência da Terra, de todas as outras coisas que nos rodeiam. Sem essas coisas, nós não existimos, nem nada que nos rodeia, que nós olhamos: não existe nada que não seja dependente de outra coisa. A casa, o armário, os livros, tudo o que nós pegarmos é dependente de uma quantidade enorme de amarrações.
Quando eu pego qualquer uma dessas amarrações, ela própria também se desdobra exponencialmente em outra quantidade enorme de amarrações, e você não consegue achar fim, nem começo. Isso leva à questão que eu abordei na palestra anterior, partindo do conto do Mestre que está morrendo e que um Monge chega ao lado e pergunta: “posso ajudá-lo?”, e o Mestre responde: “se não há nenhum lugar para ir, como você pode me ajudar?”. Porque ele tinha aprendido: não, não há lugar nenhum para ir. Não vou para nenhum lugar, não é isso. Não existe um ir. Não é esse o ensinamento do budismo, não existe um lugar para ir. Eu, agora, morro. Não tem lugar para ir. E o Mestre responde: “se você acha que vem ou vai, você ainda não entendeu nada”.