“Pretendemos começar a desmontar duas ideias extremas que o budismo combate: a ideia de eternalismo ou substancialismo e a ideia de niilismo.
O budismo acha um meio caminho entre esses extremos, e declara uma natureza inconcebível da realidade. Assim, para finalmente caracterizar a natureza do Buda, este último viés tem sido particularmente desenvolvido no contexto Yogacara, da descrição das naturezas dos corpos de Buda: Nirmanakaya (Corpo Manifesto), Sambhogakaya (Corpo Natural) e Dharmakaya (Corpo de Ensinamento e sua Natureza Transcedental).
Então, não há percepção nem do que é interno, nem do que é externo, nem ambos. Não é uma massa de percepção, nem percebendo, nem não percebendo, não visto, além da materialidade fenomênica, não compreensível, sem marcas características, inconcebível, indescritível, aquele cuja essência é a consciência de si, o final do mundo sensível, o tranquilo, o auspicioso, o sem segundo: aquele é o eu e é aquele que deve ser percebido.”
Como veremos, esses versos debruçam-se sobre temas caros a Nagarjuna. O problema da origem dos seres, por exemplo: no famoso tetralema negativo da originação dos seres, uma coisa não surge nem de si, nem de outro, nem de si nem de outro, ou de si e de outro. Nagarjuna exaure as possibilidades de explicação racional acerca das possíveis origens dos seres e dos fenômenos, tanto as substancialistas, quanto as niilistas.
A alternativa endossada por Nagarjuna é a visão que remonta a descoberta do próprio Buda: a originação interdepenente. E é esse ponto no qual queremos nos aprofundar.