A Origem do Sofrimento | Monge Genshô

A Origem do Sofrimento | Monge Genshô

O caminho Zen é o caminho para a extinção do sofrimento. É esse assunto o que mais interessou Shakyamuni Buda quando ele começou a ensinar. Então ele dedicou-se a procurar a origem do sofrimento e esse é o assunto do seu primeiro discurso: o discurso das Quatro Nobres Verdades. Localiza Shakyamuni Buda a origem do sofrimento nas ilusões ligadas ao “eu”. É o “eu” que desenvolve seus apegos e suas aversões. Em essência, a nossa crença em um eu individual, separado, que nos é informado pela nossa existência, nosso ser com sentidos, com percepções, com formações mentais, que desenvolve uma consciência particular, essa consciência luta desesperadamente para viver para sempre. Seja lá de que forma for ela quer persistir e, no seu esforço para persistir, ela aceita qualquer fantasia. Em essência, as religiões são fantasias para suprir o desespero de um eu que tem medo do seu desaparecimento e por isso as religiões prometem vida eterna.
No entanto, a ideia que Buda desenvolveu é que o sofrimento pode ser eliminado por um outro caminho: percebendo que esse eu é uma construção e que todo sofrimento é construído através de nossos apegos e aversões, os nossos desejos, a nossa tentativa de possuir, as nossas marcas cármicas que nos levam a desejar ter coisas, possuir, absorver o mundo como uma propriedade. Essa ideia é a origem do sofrimento de todas as perdas: sofremos por perder porque não queremos perder, porque nos agarramos à permanência, à estabilidade, em um mundo instável e impermanente. A saída ensinada por Shakyamuni Buda é: aprender a navegar no fluxo do próprio universo, a perceber que a cada vida o nosso eu é construído e, portanto, é um eu evanescente, temporário e que muda a todo instante. Não somos os mesmos de um ano atrás, não somos os mesmos da nossa adolescência, nem os mesmos da nossa infância; somos descendentes dessas vidas, desses períodos em nossa própria existência. Nós também somos descendentes da vida em toda a terra e somos descendentes do universo porque pertencemos a ele.

[Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei em Florianópolis, janeiro de 2019]