Existe algo precioso nos retiros que é a oportunidade de experiências e muito me alegra quando as pessoas me falam de suas próprias experiências. Nas entrevistas é muito mais importante o que você leva, do que fazer perguntas. As perguntas podem ser mais úteis durante as palestras, mas nas entrevistas o mais interessante é mostrar o resultado de nossa prática no zafu ou mesmo em nossa vida. Isso é muito importante para que você possa receber alguma orientação de como prosseguir.
O budismo é experiência acima de tudo. No Zen isso é ainda mais radical, pois em algumas escolas as escrituras são consideradas de tal forma importantes que chegam a ser colocadas sobre o altar, de maneira que as reverências são feitas também para as escrituras. Para o Zen as experiências dos outros são inúteis para nós, a menos que tenhamos grande humildade em ouvir as experiências dos outros e aprender com elas de modo que nos sirvam de guia.
É bom que tenhamos professores com idade avançada e grandes experiências, pois quando o aluno levar suas experiências até o Mestre este saberá do quê o aluno fala. Muitas vezes poderemos fazer uma pergunta ao Mestre e sua resposta será voltada para nosso despertar. No Zen existe uma tendência para chocar o aluno, uma vez um discípulo ia para o banheiro e encontra o Mestre saindo do banheiro. Antigamente os banheiros eram do lado de fora e não passavam de fossas que de tempo em tempo eram limpas com pás. O aluno então pergunta ao Mestre: “O que é Buda”? O mestre olha em volta, aponta para uma pá ainda suja e diz: “Esterco seco na pá”.
Essa é uma clássica resposta Zen. As pessoas gostam de fazer distinções, sujo e limpo, felicidade e tristeza, dor e prazer, isso de fato não existe, Buda não está somente aqui no Zendo e ali no altar em forma de estátua. Buda é uma experiência que está em todos os lugares, está no esterco seco na pá. Se você conseguir ver que o esterco na pá irá se transformar em adubo, que o adubo ajudará a fertilização de vegetais e flores e que tudo está interconectado, que nada existe separado, o alimento colhido na horta será comido e se transformará novamente em adubo, então você entendeu.
De um ponto de vista, nós somos adubo e temporariamente estamos ocupando corpos, mas sofremos de uma doença terminal chamada vida. Mas nossa mente quer distinguir. Sofremos pelas pessoas doentes que irão morrer porque não conseguimos ver com clareza o ciclo transcorrendo continuamente. Nos entristecemos pois só vemos aquele momento, embora ele seja inevitável. Isso não significa que aqueles que enxergam os ciclos e têm a capacidade de aceitar a dissolução de todas as coisas, não sofram e não devam chorar pelos mortos, não compartilham o sofrimento. Essa pessoa também se comove e chora. São dois lados – de um lado há a relatividade do mundo e do outro a natureza absoluta do mundo.