O zazen tem um processo muito honesto. Você não se senta na frente de um terapeuta. Você não se senta na frente de um monge e o monge pergunta como está sua mente. Aí você mente para ele, não é? Porque a mente “mente”, não é? Mas lá no zazen não: você se senta de frente para parede. Minta para a parede! Você vê o que aparece. Ah, esse pensamento! De novo esse pensamento! Ah, essa raiva que eu tenho, essa paixão que eu tenho, esse ódio que eu tenho, etc. É isso que está se apresentando. Se você repousar suficientemente aí então para. Quando para, você já conseguiu bastante coisa.
Corta-se o fluxo do carma do ponto de vista do pensamento. Você parou. Se você parar durante tempo suficiente, a sua percepção do mundo pode tornar-se mais pura, e isso é o que ocasiona as primeiras experiências espirituais de kenshô: você abre os olhos e as coisas são bonitas! O som lá fora é belo, qualquer som, um latido de um cão, qualquer coisa, todas as coisas são valiosas, preciosas, você as vê surgirem como coisas importantes. Então essa é uma percepção completamente diferente da percepção de quem está pensando e julgando, pois aquele que assim está não consegue ver as coisas tais como elas são. Por isso, quando uma pessoa faz um retiro e acumula muitos zazens, começam a surgir experiências.
“Ah, eu vi uma flor e ela era a flor mais perfeita que eu já vi, eu vi uma pedra e a pedra era maravilhosa, eu vi o céu….”, e tudo de repente torna-se fantástico: é muito bonito! E uma grande sensação de felicidade invade a pessoa, e então surge o primeiro pensamento: “eu consegui alguma coisa!”. Quando pensa “eu consegui alguma coisa”, puf! Aquela sensação se esvai, porque ele conseguiu alguma coisa para ele mesmo e quer sair para mostrar, e então aquela concepção esvazia-se.
Portanto, nós fazemos zazen para cultivar nossa capacidade de ter esse tipo de experiência descondicionada. Se nós conseguirmos acumular isso mais vezes e tivermos mais experiências dessas, elas tornam-se cada vez mais frequentes.