Pergunta: Quando converso diretamente com o Sensei e pratico o zazen, então de repente eu compreendo intuitivamente, mas com o passar dos dias, das semanas, aquela compreensão vai sendo soterrada pelas picuinhas do dia a dia e por meandros, daqui a pouco estou elaborando teorias e volto para o estado de confusão. É difícil ter clareza e não tenho contato tão frequente com o Sensei, então eu queria saber o que eu faço para manter essa mente?
Monge Genshō: você tem que voltar ao ensinamento, mas isso é a prática diária. Você tem que levantar e ter o hábito de fazer zazen, de ler os textos, etc. Realizar as práticas. Cada vez que algo a irritar, você pode dizer: “esta pessoa que está me irritando é vazia de um eu, ela pensa que tem um eu mas é vazia”. Se você faz esse tipo de raciocínio sempre, então nada tem muita importância. Claro que você vai parecer um pouco louca para os outros, mas isto não tem importância desde que você não mostre ao mundo.
Minha experiência com isto, inclusive familiar, foi de algumas vezes pessoas se irritarem e dizerem: “você não se importa com nada, você não se incomoda com isso, você não vê que aconteceu tal coisa? A casa pegou fogo, roubaram o carro…”. Uma vez um amigo: “ah, você é um estratosférico!”. Mas na realidade eu estou agindo bem no mundo, tanto que mesmo no mundo prático eu não sou mal sucedido, então ninguém pode dizer: “você é louco e está na miséria”.
Não significa que você age como se estivesse desligado e sim que simplesmente tem uma outra atitude sobre as coisas. Se caiu um copo no chão e quebrou, então pronto: um copo quebrou. Não tem ninguém para repreender, a única coisa para se fazer é juntar os cacos e colocar no lixo. A natureza do copo é cair e quebrar, não é? Não tem essa importância toda que as pessoas querem dar. Toda a importância que nós atribuímos às coisas que nos irritam ou nos perturbam somos nós mesmos que criamos através de conceitos que nós colocamos.