Pergunta: Por que em algumas histórias Buddha possui uma espécie de poder divino, mesmo sabendo que ele foi um homem como nós? Como por exemplo, em um diálogo com Mara, Buddha joga seu manto para o alto e sua sombra toma o mundo todo.
Monge Genshō: É uma bela história, não é? Esta é uma metáfora, não é um acontecimento real. Agora, temos que ver como os Sutras vão sendo narrados. Os Sutras mais antigos, do Cânon Pali, tratam Buddha como um homem comum. O Sutra do Diamante, por exemplo, que já é posterior ao Cânon Pali, fala como Buddha levanta-se e sai para mendigar, come, se senta para praticar, etc.
À medida que surgem os Sutras Mahayana, Buddha vai sendo transformado pelos desejos das pessoas de vê-lo como um ser sobrenatural e fica cada vez descrito como um ser luminoso, em volta do qual há uma luz dourada, ou com poderes sobrenaturais. Isso nós podemos facilmente identificar porque começa a ocorrer 400 ou 500 anos após a morte de Buddha numa tentativa de divinizá-lo.
Aliás, a história do budismo é uma história de afastamento da doutrina original sempre em direção a uma religião comum. Levando as pessoas, com o tempo, a decadência. Isso significa que vemos pessoas procurando ritos e cerimônias que tenham efeitos sobrenaturais ou mágicos, pessoas fazendo promessas em templos para receber benesses, ou fazendo ofertas com o objetivo de obter algum mérito. Tudo isso é a religião supersticiosa comum das pessoas pouco esclarecidas, o budismo original não é assim. No budismo original vemos ensinamento e prática meditativa para despertar a mente e afastamento de tudo que é mágico e sobrenatural.
Como eu disse, a história do budismo é, por exemplo, a história de um espírito ou alma querendo entrar pela porta dos fundos depois de Shakyamuni Buddha tê-lo expulsado pela porta da frente. E então vemos o surgimento de seitas novíssimas que se dizem budistas e falam em espíritos, ou almas, ou reencarnações, ou em coisas que não foram em absoluto o que Buddha ensinou.
Resposta proferida por Meihô Genshô Sensei, Daissen-Virtual, outubro de 2021.