Aluno: Li no seu livro que “não é o eu que gera o carma, mas o carma que gera a ilusão do eu”.
Monge Genshô: É como no caso do redemoinho. O carma seria o vento, essas diferenças de temperatura que provocam o vento, etc. Os ventos seriam, nessa analogia, as paixões, os desejos, os impulsos. É este carma que gera a aparência de uma identidade. Mas a identidade é apenas aparente. Nós tomamos a identidade como sólida, e esse é o grande problema da humanidade, pois a ilusão mais forte que temos é esta, a ilusão de um eu, porque a todo o momento nós somos informados de que estamos separados, temos um eu separado, como se fôssemos uma pessoa que nasceu e viveu olhando para uma tela, e a única coisa que ela viu foi aquela tela ali, passando, e ela pensasse que a vida fosse aquele filme.
A todo o tempo eu sou informado que é filme, e eu sou o assistente do filme. É o que está acontecendo conosco aqui, agora. Olhamos para o lado e vemos, e por mais que expliquemos que isto é como um sonho, a informação é tão nítida que não conseguimos escapar. Por isso a palavra DESPERTAR, Buda, o Desperto: ele acordou do sonho. A condição para despertar do sonho é estar dormindo. Portanto, todos têm natureza búdica, pois todos têm condição de acordar, já que estão dormindo. Mesmo a pior das pessoas, o pior dos criminosos, ele está dormindo um sonho, ele acredita piamente no sonho. Nós estamos vivendo isso: uma pessoa que acredita que se ele se explodir e matar um monte de pessoas ele vai para o paraíso. Então ele vai lá, se enrola em dinamite e se explode em meio à multidão, causando imenso sofrimento. Mas ele acha: “eu vou para o paraíso. Serei premiado por isso”. Para nós é evidente que é ilusão, mas para ele não é. Para ele é algo tão forte que é suficiente para que se mate.
A capacidade de a humanidade se iludir é muito grande, imensa. Buda levou tão a sério a ideia de destruir as ilusões que ele disse: “não acreditem em mim. Experimentem e testem”. É a mesma coisa que eu, como descendente da linhagem de Buda, tenho que dizer: “não acreditem em mim. Eu sou um homem, uma pessoa como vocês”. A instituição, as vestes de monge, tudo isso aumenta a minha capacidade de influir e ensinar, mas essas coisas não me dão uma autoridade. O Budismo nega uma condição de argumento de autoridade. Não digam “o Monge Genshô disse isso, então é verdade”. Não façam isso. Cada um tem que acordar por si mesmo. O Zen Budismo é um conjunto de métodos para acordar, e não a VERDADE per si.
Não temos a verdade para vender, nem cadeiras no céu, nada disso. Gostaria muito, pois facilitaria a vida da comunidade, mas não tem. Não podemos prometer isso. Um harém para cada homem, um Brad Pitt para cada mulher…