Pergunta: Mas a gente também não dá nome às folhas que caem na floresta, ou às ondas do mar.
Monge Genshô: E por que damos nomes aos homens? Nós não somos nós. Não é você. Se eu pergunto: quem é você, qual é a resposta?
Pergunta: Posso dizer que sou eu?
Monge Genshô: Pode, mas ainda será uma ilusão, porque você construiu esse eu, essa noção de um eu separado. Você construiu, atribuiu um nome a si e diz “eu sou eu”. Na verdade, se retirarmos sua memória, você não saberá mais quem é. Porque você depende da memória para sustentar essa ideia. Então você depende do passado para sustentar a sua noção de eu. Na verdade, todos os nossos eus são sem sentido, assim como seria sem sentido darmos nomes às ondas. Se você desse nomes para ondas ou para as folhas, não seria porque a folha chama Joana que você iria chorar quando ela caísse no chão.
Pergunta: Mas a gente precisa se alimentar, trabalhar, etc., como o senhor falou, e tudo isso gera um sentido de que tudo é tão concreto e real.
Monge Genshô: Tudo é tão nítido que você sofre por ele. Por isso a maior ilusão é a nossa crença num eu pessoal. Essa é a sua maior falha. Você acredita em você e por isso você vai morrer. O eu não vai sobreviver a uma morte. Se não sobrevive a uma amnésia, vai sobreviver ao apodrecimento de seu cérebro? Vai sobreviver aos vermes saindo pelos seus olhos?