A experiência não vem de fora - Parte 1 | Monge Kōmyō

A experiência não vem de fora - Parte 1 | Monge Kōmyō

Um dos aspectos mais importantes na prática é compreender o significado de permanecer quieto e atento à respiração. Para muitas pessoas, o zazen é uma técnica para atingir a calma e o equilíbrio. O zazen, de fato, é uma técnica que possui várias fases. E a primeira fase do zazen não é para acalmar, nem trazer equilíbrio. A primeira, a mais básica, função do zazen é levar o praticante a reconhecer a si mesmo. Mais do que isso, no zazen, nós precisamos reconhecer o nosso sofrimento. Todos nós sofremos. Todos nós passamos por momentos difíceis, mas também, nós possuímos em nós mesmos aspectos, comportamentos, sentimentos, pensamentos, que não são saudáveis. Que podem fazer nós mesmos insatisfeitos, podem causar dor a nós ou as pessoas à nossa volta.

A primeira função do zazen é encarar a nossa realidade. Encarar aquilo que nos traz dor, enfrentar aquilo que não nos faz bem. Se nós não fizermos assim, a paz, o equilíbrio, jamais realmente vai ser alcançado. Como eu sempre falo e ensino, no zazen, a parede é o mais sincero dos espelhos. Aprender a reconhecer a si mesmo não é fácil. E eu não pretendo dizer que seja fácil, mas esse é o grande desafio da prática zazen. Essa é a grande experiência que nós precisamos obter no zazen, na primeira fase da experiência contemplativa. E nós precisamos fazer isso observando com muita concentração e paciência, aquilo que nós pensamos, aquilo que nós sentimos. Porque a maior parte dos aspectos tensos, difíceis de nossa vida, certamente serão somatizados. E um fenômeno que se manifesta muito na prática zazen é a experiência no corpo, daquilo que nós somos e sentimos.

Portanto, antes de imaginar o zazen como uma técnica de paz e calma, nós precisamos compreender o zazen como um treinamento, um esforço, para realmente enxergar quem nós somos. Encarar a nós mesmos. Descobrir em nós mesmos meios de transformar e curar o sofrimento. Curar aquilo que não nos faz bem, superar a tristeza, a perda, o orgulho, a vaidade, o ódio.

[CONTINUA]


Teishō proferido por Kōmyō Sensei no dia 6 de maio de 2022 na sangha de Niteroi.