A delusão não se distingue da realidade | Monge Genshō

A delusão não se distingue da realidade | Monge Genshō

Participante: Eu sou apegado a live, deveria parar de assistir?

Genshō Rōshi: Se você sofrer, se não assistir a live, sim! Seria melhor que você não assistisse, mas se você se sentir livre para estar aqui quando quiser, e não estar quando não puder, sem se sentir recriminado, ou pressionado, está tudo bem.

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Participante: Sensei, qual o limite entre o desapego budista e a responsabilidade afetiva com o outro? Muitos leem a falta de apego como falta de amor, como deixá-las seguras?

Genshō Rōshi: Bom, isso é uma bela confusão. Uma coisa é amar, mas o amor é desprendido, quer o bem do outro. O apego não, o apego quer: “eu te amo mas quero você aqui perto”, “eu quero você sob as minhas ordens, sob o meu controle”, “para quem você está telefonando?”, “com quem você está falando?”, “onde é que você foi?”. Essas são as características do apego. O amor não é assim. O amor é desapegado, quer generosamente que o outro seja feliz, mas não que seja possuído, controlado. Essa é a diferença.

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Participante: Sensei, como identificar o que é ilusão e o que é real?

Genshō Rōshi: Nós temos até mais de uma palavra para isso. Ilusão você sabe o que é. O que é ilusão. Você vai ao cinema e vê o filme passando. Você sabe que são fotogramas, 24 quadros por segundo que estão passando na tela e que dão a ilusão de movimento, um sucessivamente ao outro. Você sabe que é luz na tela da televisão também, que faz com que você veja figuras lá. E se eu disser para você que aquelas figuras são reais, você vai dizer: “não, são efeitos ópticos, não é verdade”. Pode ser um filme de 50 anos atrás, eu estou vendo, e isto é ilusão. Uma outra palavra é delusão. Delusão é quando você não distingue mais a ilusão da realidade. Você pensa que aquilo é verdade. Nós poderíamos pensar que isso não é tão frequente assim, mas é frequente, muito frequente. Por exemplo, você acha que você é uma pessoa, um ser separado de todo o resto do universo que você está vendo, que você tem consciência, tem até uma certa dificuldade de conceber que os outros, as outras pessoas, também tem seus eus individuais. Será que eles não são ilusões, não são fantasmas na minha frente, que eu estou sonhando que existam. A delusão não se distingue da realidade. Você pensa: “Eu sou! Eu sou um indivíduo separado de todos os outros”. Mas não é verdade. Você está tão conectado com todos os outros, que 5 minutos sem respirar e você já morreu. Você depende, não só dos outros seres humanos, você depende de tudo: das plantas, dos animais, do mar, de tudo para sequer existir. Mas você pensa: “Eu sou!” Este “Eu sou!” é originário da sua operação mental e, portanto, uma delusão. É tão forte que você acha que é verdade, mas não é. Todos pensam “Eu sou!”, mas ninguém verdadeiramente é.


Resposta proferida por Genshō Rōshi na live sobre “Como superar o apego”, do canal Sobre Budismo, em 28 de junho de 2022.