É completamente diferente a relação de discípulo com mestre. É próxima.
Sento na frente do meu mestre e ele diz: “Ah, eu vou à Cuba, (visitar a comunidade budista) você quer ir junto comigo à Cuba?”, eu digo, “é claro, eu quero.” Depois meu mestre vem e diz: “ah desisti de ir à Cuba”, e eu digo: “sim senhor”, e ele: “quem sabe você não vai sozinho?”. E eu na frente dele: “sozinho? Ele: “É, aham”. O que vou fazer? Não posso discutir com ele, não tem discussão. Discípulo é alguém que vai seguir um caminho porque quer chegar naquilo que o seu mestre tem para ensinar. É outra coisa.
Então tem três qualidades para o discípulo: silente, não resistente e obediente. Você tem que aceitar, silente, não resistente e obediente. Não dá para o mestre ficar lutando com o aluno para convencê-lo de alguma coisa.
Alguém já estudou música? Oh, tem um bocado de músicos! Qual instrumento? Só teoria? Vários? Quando eu era jovem tocava violino. Lembro que estava com um professor chamado Frederico Richter, ele disse que em um trecho de um concerto tinha que tocar determinado dedilhado. E eu perguntei: “mas esse outro dedilhado aqui não fica mais fácil? Ele parou um pouquinho e disse: “quando você for um virtuose, você toca do jeito que você quiser, mas enquanto estiver aprendendo comigo, faz o que estou falando, entendeu”? Recém está começando e quer achar que tem uma solução melhor que a que o professor está ensinando…
Essa lição nunca saiu da minha cabeça. “A postura é essa, faça essa curvatura lombar”. Já me aconteceu de chegar um rapaz e dizer: “acho que minha mão esquerda tem que ficar embaixo da direita pois sou canhoto”. Não há condições de ficar discutindo cada detalhe. “Não gostei dessa posição.” Você recém chegou, tem que esperar, daqui a quarenta anos você inventa alguma coisa nova, mas agora, não. Mas o que acontece com aqueles que passaram quarenta anos treinando? Eles não discutem mais. “Por que tem que limpar o prato com o pão se depois vai ser lavado?” Não é assunto para ser discutido. Professor disse que é assim, limpe o prato com o pão e coma o pão.
Quando a gente come com oryoki, a gente lava o oryoki com água quente no final, passando de uma tigela para outra e depois, bebe. “Mas vou beber a água que lavei a tigela?” Só beba, não pergunte nada. Depois você vai descobrir, vai olhar e dizer: “eu comi e de tudo que comi, não sobrou nada, não foi nada para o lixo, nada foi poluir a natureza”. Se todo mundo comesse assim, como seria? Seria completamente diferente. Isto são as questões da prática, da relação com o mestre e da questão da prática que é a iluminação. Quando vocês ouvirem “a prática é a iluminação”, está certo, mas não confundam: a prática não é a iluminação. (Final da palestra de Monge Genshô, abre para perguntas)