A melhor definição para mim do budismo não é que o budismo seja uma forma de filosofia, ou religião, mas um pragmatismo dialético de métodos psicológicos, que é a definição de Edward Conze. Nós discutimos de forma prática e temos métodos psicológicos para chegar a determinado fim, ou estados mentais de maior clareza e lucidez. É isso que nós estamos pretendendo, mas nós estamos dando um salto por cima da proposta da linguagem para alcançar uma percepção da realidade.
A percepção da realidade do mar, que era o nosso exemplo, é levar uma pessoa até a frente do mar, mandá-la abrir os olhos e dizer assim “você vê, veja! O que você acha?”, “é lindo”, “está bem, então agora você sabe o que é mar”. É isto. Não é a palavra “mar”, essa palavra é só um intermediário que cria uma distância entre a minha percepção e a dele, mas nós dois olhando o mar podemos ter uma sensação que nos aproxima, mas ela não é o fim da compreensão. Então a verdadeira compreensão é um salto por cima de toda a forma expressa. Talvez a melhor expressão sobre isso seja a anedota: você conta uma anedota e as pessoas riem, se alguém não entende e você explica não há mais riso, porque a explicação, mesmo que dê uma compreensão intelectual, não permite aquele salto, então não tem graça. Por isso nunca devemos explicar uma piada. Quem entendeu, entendeu. Quem não entendeu, deixe assim.
A anedota é um salto por cima de toda a linguagem por uma compreensão mais pura. Esta compreensão pura provoca uma explosão dentro da pessoa e ela se traduz em riso, que é uma forma não verbal de compreensão, mas é a verdadeira compreensão.
Isso aparece de múltiplas formas nas expressões do Zen, nos haikai, nos poemas que pretendem transmitir um momento puro. Na pintura, em várias formas de artes marciais em que você não explica, mas tem a experiência pura, tem a compreensão verdadeira.
[Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]