A Alma no Budismo | Monge Genshô

A Alma no Budismo | Monge Genshô

Pergunta: Como funciona a ideia de alma no budismo?
Genshō Sensei: Simplesmente não há – isso é uma fantasia nossa, é nosso desejo de
permanência que nos faz querer sobreviver à morte, por isso queremos ter uma alma
eterna.
Um “eu” não continua, mas o carma sim. Para o budismo, você não era você, houve uma
pessoa antes que não se chamava Maria, essa pessoa faleceu e seu carma tinha
impulsos, desejos, e esse carma se manifestou no nascimento de um ser que recebeu o
nome de Maria e que não se lembra de nada que tenha ocorrido anteriormente. Ainda
bem! Maria não se lembra de nada, mas é muito parecida com aquela pessoa que faleceu, tem
impulsos e desejos bem semelhantes. Quando você finalmente morrer, vai acontecer a
mesma coisa: se você não cessar o carma, ele irá se manifestar de outras formas, poderá
se manifestar em outro ser com uma nova identidade. É como se você tivesse perdido a
memória e fosse achada em outra cidade sem saber de nada, e a partir daí começasse uma
nova vida, recebesse um nome e continuasse vivendo. Viveria a outra vida, mas
essencialmente é a mesma pessoa, só que não é a mesma identidade, não é o mesmo
“eu”.
Isso é possível de acontecer com uma pessoa com amnésia, mas é praticamente o que
acontece com todos nós. Nós somos continuidades cármicas, mas não somos almas que
mudaram de corpo. Na prática dá mais ou menos no mesmo, mas é essencial explicar
isso para as pessoas não se iludirem. A ideia de alma está associada ao desejo de
permanecer, de ser o mesmo para sempre.
O carma pode ser alterado e mudado a medida que o tempo passa, o carma muda, as
pessoas mudam e um dia o carma termina, as coisas se esgotam. Não existe nada eterno,
tudo é impermanente, tudo é fluxo. A felicidade está em compreender o universo, em
integrar-se a ele e compreender as ilusões para despertar. Por isso chamamos nosso
mestre de “Buda”, que significa “aquele que despertou”. A ideia de identidade que
continua ou almas permanentes são ilusões dos homens que querem escapar da morte,
que querem ser eternos, mas não existe nada eterno no universo, nem mesmo deuses.
O budismo é para céticos. Não é um método de crenças, e sim de destruição delas. Na
verdade, você nem precisa acreditar nisso, você pode usar o budismo só para mudar esta
vida, não precisa pensar em próximas manifestações. Amanhã é outro dia, não adianta
se preocupar com isso. Também não adianta se preocupar com a morte, porque todos
nós vamos acabar esse curso da vida e seremos diplomados com a morte: não haverá
reprovações.