O Sexto Elo - Parte 1 | Monge Genshō

O Sexto Elo - Parte 1 | Monge Genshō

Hoje nós prosseguiremos com o Sexto Elo da Originação Dependente: chama-se Sparśa, que significa “contato”. Na verdade, nós olhamos, no passo anterior, Saḍāyatana, os sentidos e discutimos a precisão que os sentidos têm ao serem nosso método de verificação, nosso instrumento para contatar aquilo que chamamos de realidade. E chegamos, no fim, à conclusão de que a realidade é uma interpretação.

Nesse elo, Sparśa, nós verdadeiramente fazemos o contato com esses instrumentos de medição que são os nossos sentidos, fazemos contato com o mundo que nos cerca. Isto é a realização da materialidade tal como ela se expressa para nós. No contato, nós verificamos essa materialidade e aí passamos a operar nesse universo que nós percebemos. Então, acreditamos que nossa interpretação é objetiva, que a realidade é aquilo que nós experimentamos.

Como expliquei anteriormente, existem inúmeras formas ao nosso redor que não estamos percebendo. Quando fazemos contato, parece que nossa mão toca um objeto tal como ele existe. Mas, na verdade, não é isso que ocorre. Se nós fôssemos capazes de ver os átomos, veríamos que são praticamente vazios de substância. Se nós tivéssemos um átomo do tamanho da cúpula da Catedral de São Pedro, os elétrons estariam orbitando na cúpula. E o núcleo do átomo seria do tamanho de um grão de sal no centro da cúpula e o resto todo seria espaço, sem nada. Os átomos dos meus dedos resistem a penetrar pelos seus campos de força, os átomos que estão aqui no objeto na minha mão.

Nós pensamos que percebemos coisas e, em certo nível, é isso que ocorre. Mas esse é um aspecto muito restrito de tudo o que está acontecendo à nossa volta. Se nós víssemos os átomos, veríamos apenas campos de energia que resistem uns aos outros, que não se interpenetram. Numa situação singular de extrema gravidade, os átomos são esmagados e não é mais isso que ocorre.

O que é importante para nós, para entendermos isso, é que muitas descrições budistas do passado se referem a outras realidades, a outros planos de realidade. Vamos dar um exemplo: no Denkōroku (“Registro da Transmissão da Luz” – uma coleção de koans com histórias de Iluminação), Keizan Jōkin se refere a “mundos sem forma”, a mundos que não têm essa materialidade que estamos vendo aqui, mas em que a consciência existe. E diz assim: se alguém acumula grande mérito, como se fosse um santo, e se manifesta em um mundo sem forma, nesse mundo sem forma não há corporalidade, mas, no entanto, existe consciência. E diz: nesse mundo dos deuses que têm longas vidas, embora seja extremamente prazeroso, maravilhoso viver nesse tipo de mundo, também nele existe decadência, assim como existe decadência para mundos inferiores. Ou seja, os méritos se esgotam e, quando os méritos se esgotam, aquele ser decai para um mundo inferior.

As descrições a esse respeito são muito frequentes e atravessam milhares de anos. Como sempre repito, não se trata de um artigo de fé. Mas nós deveríamos desconfiar que há algo sendo narrado aí que tem alguma realidade. Existem possibilidades enormes de manifestação em múltiplas condições. E essa onde estamos agora é apenas uma das formas de manifestação possível. Nós estamos vendo, sentindo e fazendo contato com um mundo de um aspecto material que nós verificamos e achamos que é o único. E esse é o grande problema. Porque operamos num universo que percebemos e achamos que ele é o único.

Nada corroboraria essa ideia. Nem as questões como falei do espectro eletromagnético: percebemos e vemos apenas uma pequena fração daquilo que existe no espectro eletromagnético. E nós sabemos que existe. Tanto que estamos falando aqui agora. Vocês estão me vendo e me ouvindo. Mas, na verdade, isso foi transmitido por ondas completamente invisíveis para nós. Ondas do espectro de rádio que depois são transformadas em pixels nos seus computadores, pontos de luz que vocês identificam como uma realidade.

[CONTINUA]


Palestra proferida por Genshō Sensei em teishō na Daissen Virtual em dia 2 de março de 2024.