[CONTINUAÇÃO]
O caminho zen é simples e não é simples ao mesmo tempo. Ele é simples, porque tudo o que é ensinado tem como base o que nós acabamos de fazer aqui. Sentar, respirar, silenciar. E a parede, para a qual nós nos viramos, reflete apenas a nossa verdadeira natureza, nada mais, nada menos. Eu nunca prometo nada a ninguém, eu não sei, cada um de vocês, quando a experiência contemplativa vai se aprofundar de tal modo em que vocês vão conseguir atingir esse esclarecimento. Mas o zen não existe a partir de promessas, ele existe a partir de um trabalho profundo, às vezes árduo, de reconhecimento pessoal, compreensão pessoal, transformação pessoal e cura de toda essa ilusão.
Nós vivemos no século 21, e esse tipo de papo, consciência, equilíbrio, a gente cansa de ouvir. Qualquer guru da Nova Era fala a mesma coisa, então qual é a diferença? Por trás de mim existem 2500 anos de experiências, de indivíduos, homens e mulheres, que atingiram uma experiência mais do que comprovada. Eu não estou aqui para angariar fama e admiração, não quero seu dinheiro, não quero ficar rico com o dinheiro de vocês, a minha função, o meu sacrifício como monge, é tentar levar as pessoas às mesmas experiências engrandecedoras que eu mesmo já vivi. Se eu conseguir fazer isso com duas pessoas em toda a minha vida, eu vou me sentir profundamente realizado. Aquilo que é pedido é um esforço pessoal, é um interesse pessoal. Todos vocês são livres, vocês ficam e praticam, serão sempre muito bem vindos. Se vocês acharem que este não é o seu caminho, então vocês estão livres para ir. Existem muitos caminhos.
A cada vez que eu venho aqui, ou na minha sangha de Niterói, eu sempre me preocupo se eu vou conseguir encontrar aquela palavra que vai atingir as pessoas. Não por mim, mas pelo bem de uma experiência que é muito equilibrada e saudável. A prática zen às vezes é muito difícil, dói o corpo, muita distração na mente, a gente se frustra, acha que não vai conseguir nada, mas a chave do zazen é a continuidade. Porque parece que nada acontece, mas esse esforço que nós estamos fazendo gera sementes. E um dia, quem sabe, elas vão germinar em você. Talvez durante um zazen, talvez tomando banho, talvez lendo um livro, talvez beijando alguém, ou abraçando. Em algum momento a semente da consciência, ela desabrocha, e a experiência acontece. Como eu disse, no início, não é nenhuma experiência mística, não é nada sobrenatural. O que o Buda procurou mostrar através do que ele mesmo viveu é algo absolutamente natural.
A ironia do budismo é que o budismo se tornou uma religião institucionalizada baseada no conceito de espiritualidade, mas de fato o budismo é uma grande investigação. Sim, nós temos rituais, nós temos recitações, temos superstições, mas no fundo nada disso é o verdadeiro Dharma de Buddha. Observar a si mesmo, encontrar a força e a coragem de descobrir a nossa própria realidade, e acordar do sono egoísta, esse é o caminho Zen.
Teishō proferido por Kōmyō Sensei no dia 6 de maio de 2023 na sangha do Rio de Janeiro.