O despertar não é privativo do Zen | Monge Genshō

O despertar não é privativo do Zen | Monge Genshō

Monge Butsukei: O Gaston Marinho: Boa noite Sensei! O senhor conseguiu esse despertar? Conte para nós.

Genshō Rōshi: Essa pergunta não pode ser respondida por mim, ela tem que ser respondida pelo meu Mestre Saikawa Rōshi. Foi ele que me deu a transmissão, ele que achou que devia fazer isso, e me nomeou seu sucessor na nossa linhagem, só ele que pode dizer. Eu só posso dizer que na minha opinião, a responsabilidade é dele e eu não me sinto merecedor.

Monge Butsukei: Muito obrigado Sensei. O Rod Gomes perguntou: é possível despertar momentaneamente e voltar ao sono depois.

Genshō Rōshi: Esse vislumbre do despertar nós chamamos, tem até um nome, chama-se Kenshô. Ken significa ver, e shô sua verdadeira natureza. Quando vemos nossa verdadeira natureza isso pode acontecer em um momento, muito breve. Podem ser segundos. Mas, quando temos um vislumbre desse, nossas dúvidas desaparecem. Nós sabemos que existe essa experiência, existe uma luz do outro lado, como se nós tivéssemos levantado um véu e visto a luz do outro lado, mas não passamos para lá ainda. Essa experiência mística de ver nossa verdadeira natureza, ela também existe em outras tradições religiosas. E ela não é uma coisa que só possa ser atingida no Zen Budismo, ou no Budismo. Existem mesmo linhagens que não procuram formas de iluminação, pelo menos não nesta vida. O Zen procura ativamente uma realização espiritual nesta vida, mas creio que a literatura religiosa está cheia de experiências místicas profundas relatadas por místicos cristãos, sufis, islâmicos, poetas os mais diversos. Nós podemos ver que houve uma experiência real ali. Então, isso não é privativo da técnica do Zen.
As técnicas meditativas do Zen estão focadas em provocar esta experiência sem a crença em um Deus ou a provocar esta experiência sem a crença em um Deus ou a intermediação de pessoas que sirvam de mediadores entre o homem e o divino, isso não existe no Zen Budismo. Agora, quando vemos estas experiências acontecerem, as pessoas dessas outras tradições religiosas explicam a experiência que tiveram com o seu quadro referencial, então dizem: eu fui tocado por Deus, eu falei com um Anjo, ou qualquer coisa assim. Ele foi tocado, sentiu algo profundo dentro de si, mas ele não sabe exatamente o que é, não sabe interpretar, senão usando o linguajar, as figuras e os mitos da sua própria tradição religiosa. O Zen tem uma descrição muito detalhada e específica da experiência mística, passos e técnicas para atingir. E isso é o que me pareceu mais atraente no Zen Budismo.

Monge Butsukei: Muito Obrigado Sensei.


Resposta proferida por Genshō Rōshi, nas lives do Sobre Budismo, em 2022.