(…) Prossegue, Huineng: “a que chamamos Paramita? Essa palavra quer dizer alcançar a outra margem. Compreender isso é romper com o ciclo de produção e destruição e ir mais além da existência e da não existência”. Aqui é necessário esclarecer que quando falamos em “outra margem” estamos nos referindo ao rio que precisa ser atravessado, esse rio de um lado tem uma margem do Samsara, do mundo em que estamos perdidos, procurando a felicidade através das coisas, das pessoas, dos amores, de alguma realização qualquer, de uma conquista. Esse é um mundo infeliz de perambulação, em que perambulamos através da felicidade angustiados com o fato de a morte ser certa. Mas quando atravessamos esse rio da ignorância, na outra margem, Paramita, encontramos a sabedoria, nesta analogia, a margem onde encontramos Prajna. Então uma margem é a do Samsara e a outra é a da sabedoria, que nos permite chegar ao Nirvana, que é a situação de estarmos sem vento, sem fogo dentro de nós, sem os impulsos de apego e aversão que são exatamente eles que produzem a sensação de Samsara. Então quando estamos na margem de Prajna estamos livres e, por isso, aqueles que conduzem seres de uma margem para a outra são chamados Bodhisattvas, os barqueiros. Vejam que em um de nossos livros, O Caminho Zen, o artista Guilherme Quadra, também praticante da sangha, colocou um barco que vai da direita para a esquerda. Esse barco tem um barqueiro dentro que conduz seres de uma margem para a outra, é esse o significado da capa do livro. É uma referência a Paramita, a outra margem.
“Compreender isto”, prossegue Huineng, “é romper com o ciclo de produção e destruição, e ir mais além da existência e não existência. Se permaneceis apegados às circunstâncias e às aparências, seguireis bamboleando-vos no mar agitado. Assim é esta margem. Se alguém se desprende dela já não há nascimento e morte, apenas uma corrente aprazível, sem redemoinhos, nem espuma. Isto é alcançar a outra margem, Paramita. A boca do cego recita, o sábio pratica. Se não vos exercitais nisto, seguireis sendo seres ordinários. Mas se, ao menor pensamento, vos exercitais nisto vosso corpo da lei, dharmakaya, será semelhante ao de Buddha.”
São três corpos, quem quiser estudar sobre essa referência procure por trikaya, que são: dharmakaya, sambhogakaya e nirmanakaya.
Aqui ele se refere ao corpo da lei, dharmakaya. (Continua)
Teishô proferido por Meihô Genshô Sesnei, Daissen-virtual, março/2022.