Pergunta: Além da prática do zazen, de que forma podemos exercitar a aceitação da impermanência?
Monge Genshō: Aprendendo sobre ela, não é? O nobre caminho óctuplo começa com dois pontos importantes: compreensão e entendimento, que são próximos entre si, mas significam que nós precisamos conhecer os princípios do Dharma, entendê-los e fazer suas correlações com o nosso mundo, com as coisas que acontecem na nossa vida e aplicar isso permanentemente. A aceitação da impermanência começa pelo fato de nós vermos que ela é inevitável, que ela está aí, em nossa frente, se demonstrando a todo instante. Não há nada permanente à nossa volta, mesmo que nós procuremos alguma permanência nas coisas, essas coisas não serão permanentes. Vamos supor que alguém dissesse: ah! Então eu vou comprar um diamante, porque um diamante é um cristal de carbono, altamente estável e pode durar milhões de anos etc. Ele compra um diamante pensando: agora eu tenho uma coisa permanente, mas não é permanente, você não vai levá-lo com você, mais cedo ou mais tarde você vai morrer, e as coisas que você adquiriu, e os seus diamantes, não lhe servirão de nada; de modo que é muito simples verificarmos que estamos rodeados de impermanência, por todos os lados. Nós não pensamos bem sobre isso, por exemplo, amamos nosso corpo, não é ? E nosso corpo é precioso, e qualquer coisa que aparece na nossa pele, por exemplo, nos deixa preocupados, mas nós vamos lá na janela e cortamos as unhas e jogamos as raspas das unhas fora e cortamos o cabelo no cabeleireiro e fica lá no chão. Não fazemos a barba? Os homens fazem a barba e depois guardam os restos da sua barba? Não, vai embora, tudo vai embora, tudo que você tem e que tá sendo descascado, vai sendo descartado na natureza, nada sobra. E por que nós pensaríamos que haveria alguma permanência no mundo, não há permanência em lugar algum. As coisas mais preciosas se dissolvem no tempo, mesmo aqueles que escrevem e deixam livros não têm nenhuma certeza de que eles serão lidos no futuro ou que irão permanecer. Muitas obras que foram escritas e festejadas no passado e muitos escritores foram simplesmente esquecidos, não são mais lidos hoje em dia, estão lá colhendo pó nas bibliotecas ou nos arquivos e as ideias também vão se dissolvendo no tempo e, de vez em quando, ressuscitam e são apresentadas como novas, ideias velhíssimas, ideias que estavam no passado, mentiras, em que as pessoas já acreditaram tantas vezes, são repetidas de novo e ditas ao povo e o povo as aceita, porque por algum motivo não conhecem a história. E se fossem lá e lessem a história romana, por exemplo, diriam: era a mesma coisa, tudo acontecia igual, a mesma corrupção, as mesmas mentiras, os mesmos enganos foram vendidos da mesma forma, há dois mil anos atrás. Nós simplesmente repetimos e muitas vezes repetimos por ignorância, mas esse é outro aspecto da impermanência, não é? Mas se queremos aceitar a impermanência, primeiro temos que compreendê-la e, se a compreendermos com clareza, a permanência perde a sua força e nós podemos ver todas as coisas como transitórias.
Resposta proferida por Meihô Genshô Sensei, Daissen-Virtual, em Fevereiro de 2022.