Nós usamos a palavra libertar no lugar da palavra salvar e essa é uma diferença importante. Vestimos o manto de Buddha e seus ensinamentos para libertar todos os seres de seus sofrimentos. A palavra salvar tem a conotação de salvar da morte e para nós budistas nascimento e morte não são mais do que ilusões das nossas manifestações. Nossas identidades pertencem ao mundo relativo, dos eventos, condicionado, cheio de causas e condições.
Nesse mundo nascimento e morte parecem realidades, mas para aquele que olha o absoluto, os tempos sem início, para aquele que percebe sua verdadeira natureza, nascimento e morte são como bolhas de sabão, ou o orvalho da manhã. São como dia e noite, como a alvorada e o entardecer, eventos pequenos e insignificantes em um mundo mutante.
Para aquele que está olhando a eternidade, as galáxias, o amanhecer e o seu pôr-do-sol não são mais do que insignificâncias. São simples irregularidades, acontecem agora e um dia não acontecerão mais. Surgem e desaparecem. Da mesma forma que as ondas na superfície do mar, nossas vidas surgem e desaparecem.
Passam rapidamente e não deixam traços na eternidade. Mas para aquele que vê sua verdadeira natureza, vê que ele mesmo é todo o tempo, é o absoluto, vê que ele mesmo é o mar e não as ondas. Por isso o Sutra do Coração e da Sabedoria diz que aquele que vê o vazio dos agregados, a sua falta de identidade própria, de um eu inerente, livra-se instantaneamente de toda dor e sofrimento. Com esta compreensão toda dor evapora, porque dependem da compreensão relativa das coisas.
Então aqui e agora, sentados em zazen, olhamos para nossa natureza absoluta e esqueçamos os pensamentos que surgem e desaparecem e que estão ligados a uma visão relativa dos eventos. Não tentem agarrar as bolhas que se formam na garrafa. A água está lá, mas as bolhas só surgem e desaparecem.
Resposta proferida por Meihô Genshô Sensei, Daissen-Virtual, dezembro de 2021.