Esse manto que nos cobre e protege, nos identifica como seguidores dos ensinamentos deste grande mestre que foi Shakyamuni Buddha. Como seguidores dos desenvolvimentos, aprofundamentos, detalhamentos feitos por seus grandes sucessores, nossos ancestrais, através de 2.500 anos de esforço por diminuir os sofrimentos dos homens, dando-lhes lucidez para enxergar a si mesmos, as suas mentes agitadas e turbulentas, sensíveis aos azares da sorte, às perdas, aos sofrimentos afetivos, aos receios e medos.
Monge Taishin já disse muitas coisas e faço minhas as suas palavras ao reconhecer cada esforço das pessoas dedicadas que tornam possível o Daissen Virtual. Sentamos juntos com nossos companheiros, ombro a ombro, e isso pretende criar o nosso hábito, a nossa disciplina, nos dar a energia que os outros nos dão, porque eles esperam por nós então nós viemos e sentamos.
Eu agradeço a energia que vocês me dão, que faz de mim monge, que me faz sentar e tentar corresponder a tão altas expectativas. Todos nós muitas vezes nos sentimos despreparados e inadequados para tarefas tão grandes, assim só nos resta imitar os mestres do passado, fingir que somos como eles, mesmo duvidando de nós mesmos podemos imitar.
Ao imitar a postura de Buddha, ao imitar o comportamento de nossos ancestrais, nós construímos esse edifício que é a sangha, um edifício que não tem tijolos e nem ferro ou concreto. Mas que é feito por nossas mentes, nossos corpos, nosso propósito e nossa solidariedade.
Às vezes seremos atingidos pela vida e choraremos, nos sentiremos angustiados e com dor no peito, no entanto sabermos que temos companheiros que sentem o mesmo e que são capazes de determinadamente praticar para ganhar mentes livres, para esquecer os sofrimentos, olhar para o céu azul e o sol que nasce. Ver a luz que nos ilumina e clareia tudo. Isso é uma grande demonstração de que dentro de nós também a luz do Dharma pode tudo clarear e espantar toda dor e sofrimento.
O Sutra do Coração diz que quando o Bodhisattva vê claramente o vazio dos agregados liberta-se instantaneamente de toda dor e sofrimento. Significa que quando não vemos mais um eu nas coisas e compreendemos o grande fluxo de manifestações e a nossa verdadeira natureza una com todos os seres, toda abrangente, sem limites, sem bordas, sem fronteiras, todo o tempo se dissolve e nós somos a própria eternidade junto com todos os nossos entes queridos.
Esse último dia queria recordar também a grande tragédia que estamos vivendo e a quantidade imensa de sofrimento criado pelas perdas afetivas. É realmente uma grande tragédia, nós temos companheiros de sangha que perderam em uma semana o pai e a mãe. Nesse momento voltamos também nossos olhos para eles com o consolo do Dharma, não há ir e nem vir, todos estamos sempre juntos. Nada é esquecido no universo, nada desaparece, nós e nossos entes queridos estamos juntos. Eles estão presentes em nós mesmos e em todas as coisas que nos rodeiam, na luz que nos ilumina, no vento que balança as árvores.
Eu me congratulo com todos por serem capazes de estarem aqui e agora sentados como Buddhas. Vocês todos são os queridos Bodhisattvas do zen e um grande amor nos une. Essa sensação nos dá força e conforto. Mergulhamos profundamente nesse sentimento de unidade e de eternidade. Muito além do ir e vir, estamos sempre juntos, como agora. Nós, todos os ancestrais, o próprio Buddha, cada um de nós, uma fagulha brilhante, nessa grande tempestade de luz que nos envolve e que faz com que cada um de nós seja maior do que um indivíduo, um participante dessa inundação luminosa que perpassa os tempos, a qual pertencemos e que se cultivarmos continuará nos envolvendo também sem limites. Porque nós e todos os outros seres pertencemos a esse grande oceano, o oceano de existência e apenas borbulhamos como espuma vez ou outra, mas estamos aqui, juntos.
Essa unidade e apoio é o que a sangha significa, o lugar da harmonia.
Teishô Matinal proferido por Meihô Genshô Sensei, setembro/2021.