Um antigo ditado romano diz sic transit gloria mundi: “tão transitória é a glória do mundo”. No ritual do triunfo, quando um general ou conquistador retornava, se fazia um desfile em que ele era homenageado e aplaudido, com seus exércitos atrás, com seus troféus e um escravo era colocado atrás dele para repetir: “lembra-te que és mortal!”.
Do outro lado do mundo, no Japão, Kodo Sawaki escreveu “o mundo corre atrás de fama e honra, roupas bonitas e conforto, mas permanece insatisfeito até a morte”. Então, há muito tempo, os homens sabem que as glórias do mundo são transitórias e que, se corrermos atrás delas, ficaremos insatisfeitos até a morte, porque as glórias do mundo são frágeis e o favor da opinião dos outros flutua facilmente para cima e para baixo.
A questão que se coloca é: do que vale a pena colocar louros sobre a cabeça e, do outro lado, o que vale a pena realmente procurar na vida? Os grandes sábios, nossos ancestrais, sempre verificaram que o que era preciso era se libertar; libertar-se de todos os medos, de todas as ilusões; despertar para a vida com lucidez e ser capaz de ver a cor cambiante incidindo sobre o mar; ver puramente sem tentar transformar, perceber com lucidez e aceitar a mutabilidade da vida.
Todo o nosso esforço ao sentarmos não é tentar alcançar nada, nem fama, nem glória, nem riquezas. Nada mais longe de uma teologia da prosperidade do que o Zen. Não tentamos pedir favores de deuses, nem tememos os desfavores da sorte. Queremos apenas ser capazes de abrir os olhos e de ver a luz cambiante mudar as cores sobre a superfície do mar.
Ser capaz de cultivar esta mente maravilhosa é ter a possibilidade de achar a felicidade nas pequenas coisas e nas transformações que ocorrem à nossa frente a cada momento, sem nos agarrarmos a nada de transitório, nem sequer a uma glória, a uma fama ou a um conforto.
Teishô Matinal proferido por Meihô Genshô Sensei, agosto/2021.