O sofrimento está na mente | Monge Genshô

O sofrimento está na mente | Monge Genshô

Pergunta: Como lidar com o sofrimento coletivo, do mundo? Que atitude devemos ter como budistas frente à realidade dura do mundo ao redor?

Monge Genshō: Devemos fazer o possível para amenizar os sofrimentos do mundo, mas os sofrimentos estão na mente. Por exemplo, tendemos a pensar que estamos vivendo numa época terrível, mas as épocas que nos antecederam foram muito mais terríveis. Só no Séc. XX tivemos duas guerras mundiais, a primeira matou 20 milhões de homens e a segunda 50 milhões.

Continuamos a ter confrontos e combates, mas se recuarmos no tempo veremos epidemias, crises humanitárias, desemprego e ignorâncias muito maiores. Pense: em 1910 no Brasil tínhamos 10% das pessoas alfabetizadas. A quantidade de desconfortos e riscos que as pessoas corriam eram muito maiores, nunca vivemos uma época tão segura quanto agora.

Ainda é uma época ameaçadora para se viver, cheia de sofrimentos, sim, ainda é. Mas isso não significa que o mundo piorou, pelo contrário, ele melhorou, basta olhar os números. No Séc. XX descobrimos a cura para doenças infecciosas, antes disso as mulheres tinham em média seis filhos e morriam quatro. Por isso a população não aumentava tanto. A nossa média de vida era muito mais curta, estamos vivendo quase o dobro do que vivíamos. Temos muito mais oportunidade, inclusive para conhecer o Dharma. Conhecer o Dharma antes era muito difícil, você precisava encontrar um mestre, viajar até ele e tinha que fazer grande esforço. Agora você pode acessar a internet.

O mundo de hoje é incrivelmente melhor do que foi no passado, inclusive muitos confortos que nós temos hoje parecem normais, mas se nós pensarmos que no ocidente um vaso sanitário foi criado para a rainha Vitória e isso não faz 200 anos. Quando você vai ao banheiro tem um conforto que os reis não tinham. Essa é uma coisa para nós prestarmos atenção e apesar disso o Dharma sobreviveu e os ensinamentos foram sendo difundidos. A maneira melhor de diminuirmos o sofrimento humano é aumentarmos a consciência e a compassividade dos seres e, para isso, o Dharma deveria ser difundido o máximo possível. 

Lembrem que o preceito de não matar no budismo não quer dizer não matar outros homens, quer dizer não matar nada, nem a floresta, nem as pedras, nem nada. E cada vez que usarmos um recurso natural deveríamos reverenciá-lo e agradecê-lo. Se tivermos esse tipo de atitude, nosso mundo mudará como já mudou em alguns lugares. Dando um pequeno exemplo: séculos atrás no Japão estabeleceu-se que não podiam derrubar as florestas, o Japão hoje tem 70% do seu território coberto de florestas, o que é mais do que o Brasil tem. Portanto simples princípios e consciência podem mudar o mundo em que vivemos, são estes princípios que queremos espalhar.

Palestra proferida Meihô Genshô Sensei, maio de 2021.