Estive no mosteiro Sojiji Soin, na distante península de Noto, de frente para o mar do Japão, que fica entre o meio do Japão e a costa da Coreia. Lá, da janela do zendō podia ver uma casa muito velha, sua madeira parecia ter séculos de exposição ao tempo e esta pequena casa era cuidada pelos monges e várias vezes trabalhei em seu jardim, limpando as muitas folhas que se acumulavam em seus estreitos caminhos. Aquela casa foi de Keizan. Setecentos anos atrás, nela morou o grande mestre que havia fundado o mosteiro de Sojiji Soin.
Como já ensinou o monge Chudō, Soin significa “pai”, Sojiji Soin é o “pai” do mosteiro original do qual derivou o grande Sojiji de Yokohama. Muitos anos atrás, quando Keizan estava doente e ficou acamado, no fim de sua vida, um dia levantou-se e quando seu auxiliar apareceu ele disse para chamar os seus discípulos para reunirem-se com ele naquela noite e à frente dos seus discípulos sentou-se em zazen junto com eles e tranquilamente faleceu em zazen. Esse discernimento de saber o momento de sua morte com antecedência e a habilidade de ser capaz de falecer com a mente do zazen, permite que se possa, praticamente, projetar sua próxima manifestação, dando a ela o caráter daquela mente, que é a mente determinante para os próximos acontecimentos.
Nós não sabemos o momento de nossa morte, cultivar a mente adequada é extremamente importante. Talvez seja muito difícil para nós sermos como Keizan que quis ir para um monastério aos oito anos de idade e que dedicou toda sua vida, momento a momento à prática, porém ao praticarmos, como fazemos agora, ao educarmos e condicionarmos nossa mente criamos condições para mudar todo nosso karma e assim mudar nosso futuro. Que essa prática nos condicione, nos ilumine, nos prepare para estarmos sempre prontos para podermos ser não só senhores de nossa mente, mas também senhores do futuro.
Teishô Matinal proferido por Meihô Genshô Sensei, maio de 2021.