Devemos pensar cuidadosamente se o sofrimento surge de fora ou surge de dentro, se é
causado pelos eventos ou se é causado pelo nosso modo de ver, pela nossa mente, e
chegaremos à conclusão que a mente, aquela que interpreta, é que coloca o carimbo de
sofrimento nos eventos.
O mesmo evento que pode ser sofrimento para alguém, para um Buddha não é
sofrimento, é apenas a mudança acontecendo, o ir e vir das ondas da existência. Os
ventos soprando não são propriamente sofrimento, mas são como sonhos acontecendo,
se temos um sonho e não lembramos, é como se ele não tivesse acontecido, se temos
um sonho mau e acordamos, dizemos nós mesmos “ah, era só um sonho” e assim
podemos voltar a dormir tranquilamente. O que acontece é que descartamos a realidade,
compreendemos que era mera fantasia construída pela nossa apreciação dentro das
nossas mentes, assim se educarmos nossa mente seremos capazes de navegar pela
vida, olhando os acontecimentos como se tivessem a qualidade onírica dos sonhos,
veremos que são construções mentais, nada mais do que isso.
Por isso para Buddha ir e vir, nascer e morrer, são eventos como inspirar e expirar. Para
aprendermos isso sentamos em zazen, inspiramos como quem nasce, expiramos como
quem morre, sabendo que no momento seguinte inspiramos e expiramos novamente.
Esse modelo é o mesmo modelo das nossas muitas existências, inspiramos e expiramos
continuamente, a cada vez diferentes, existindo em um mar de existências, imenso e
incompreensível em termos de número para cada um de nós. Somos nós próprios o
universo se manifestando. Somos nós próprios o próprio tempo, a própria eternidade, por
isso Dōgen Zenji, nosso grande mestre do Sec. XIII, disse: “Tudo é tempo”.
Teishô Matinal proferido por Meihô Genshô Sensei, maio de 2021.