Algumas vezes lemos que Buddha não era budista ou que Cristo não era cristão ou qualquer afirmação deste tipo, característica da Nova Era. No entanto, se olharmos a história e o que aconteceu veremos que Buddha era um organizador.
Buddha começou a ensinar e estruturou seu ensinamento de uma forma que pudesse ser escalonado e pudesse ser estruturado em passos. Admitiu secretários que o acompanharam por toda a vida, ( o mais importante foi Ananda) registrando e decorando estes ensinamentos, de modo que pudessem ser repetidos e consolidados. Também criou um manto especial para distinguir a sua ordem monástica de outras ordens existentes naquele tempo. Criou a ordem monástica feminina, colocando à sua frente sua tia e mãe adotiva que havia pedido para ser monja junto com suas amigas. Insistiu na igualdade de capacidade para se iluminar de homens e mulheres – coisa que, à época, parecia revolucionária –, e sofreu resistências, inclusive dentro do Budismo.
Também criou regras de comportamento – o Vinaya – detalhadas para cada ocasião e para cada percalço que surgia no caminho da ordem monástica. Hierarquizou a Ordem, tendo dez discípulos principais, entre os quais seu próprio filho, Rahula. Hierarquizou a forma como a sangha se organizava, a maneira e a ordem em que se sentavam nas assembleias.
Portanto Shakyamuni Buddha é o fundador de uma Ordem, o fundador de um conjunto de ensinamentos, o fundador de uma organização de pessoas, aquele que criou o regimento interno de comportamento dentro da Ordem e de comportamento perante a comunidade. Se prestarmos atenção, outros grandes líderes religiosos organizaram estruturas desta forma e, portanto, podemos concluir que Shakyamuni Buddha foi o organizador da Ordem Budista e, sim, ele era budista. Ou seja, ensinava a doutrina que levava a despertar – que é o que a palavra “buddha” significa: “aquele que acordou”. Por isso a Ordem Budista é daqueles que desejam acordar.
Em tempos mais modernos, no Ocidente, tentou-se transformar o budismo numa espécie de gnose, que abrangesse tudo e que penetrasse todas as religiões e ordens. Essa ideia também não é realista, porque a doutrina do Budismo é tão específica a respeito de conceitos disseminados em outras religiões e ordens, que, inevitavelmente, conflita com esses conceitos, impedindo uma absorção absoluta. Referências podem ser feitas, detalhes de técnicas meditativas podem ser usados, mas uma integração doutrinária com o Budismo é extremamente difícil a partir, especialmente, da recusa da aceitação de um demiurgo interferente, de uma divindade a quem se pode pedir que interfira na natureza e nos acontecimentos, ou que seja criadora de tudo.
Portanto, os budistas devem ser realistas a respeito da doutrina e estudá-la. Devem compreender que as organizações, estruturas, são necessárias para a sobrevivência de uma ordem religiosa e que um conceito libertário e anárquico, simplesmente não é viável. Tudo isso deve estar a serviço de um único propósito: o despertar de todos os seres e a libertação de todos eles. Mesmo que leve tempo infinito, esse é o nosso voto.
Teishô Matinal proferido por Meihô Genshô Sensei, abril de 2021.