Pergunta: A interconexão e a interdependência são realidades. Como encarar essas
realidades diante de pessoas más e perversas?
Monge Genshō: Todos nós somos maus e perversos também. Todos somos bons e maus ao
mesmo tempo. Se nós distinguirmos as pessoas dizendo: “essas pessoas são más e perversas”,
nós estaremos vendo isso, nós estaremos criando, de novo, um problema.
Todas as pessoas têm possibilidades para tudo, inclusive o potencial para serem Buddhas.
Isso não significa que todos são Buddhas, como às vezes algumas pessoas afirmam. A
doutrina é: “todos temos Tathāgatagarbha”, todos temos o embrião de um Buddha, ele está
oculto, mas pode ser despertado.
Uma vez um ladrão roubou o manto de Ryokan, um grande mestre da Sōtō Zen que vivia
sozinho no eremitério nas montanhas muito pobremente. Um policial pegou o ladrão e viu
que ele tinha roubado um manto, estava muito frio. Levou o ladrão até Ryokan com o manto
e perguntou: “este manto é seu mestre?” e o mestre disse: “não, estava muito frio, eu o dei
para ele, foi um presente.”. O policial teve que deixar o ladrão, que três dias depois voltou e
se ajoelhou na frente de Ryokan e pediu para ser seu aluno, este mesmo homem foi resgatado
pela compaixão de Ryokan, que não via o manto como sua propriedade, mas sim como algo
que podia aquecer alguém que estava com frio. Essa mesma história aparece no livro “Os
Miseráveis” de Victor Hugo. Jean Valjean, o herói, rouba a prataria na casa de um padre que
o hospedou e lhe deu comida e quando a polícia o leva lá, o padre diz: “não, eu dei para ele”.
Quando a polícia vai embora ele diz a Jean Valjean: “com isto eu comprei sua alma e agora
você tem a oportunidade de se redimir, você foi ladrão”. Então Jean Valjean transforma-se
em um homem completamente diferente a partir desse momento. São histórias bastante
semelhantes e acho que elas podem iluminar esta pergunta.
Perguntas respondidas por Meihô Genshô Sensei, Janeiro de 2021.