Texto de Keizan: “Assim, havendo se desligado de toda a preocupação e rechaçado todo o apego, toda a ação, toda a intervenção, com os seis sentidos em repouso, quem é aquele cujo nome nunca foi conhecido e que não pode ser identificado nem em corpo nem em espírito? Quando tentais pensar nele, os pensamentos se desvanecem, se tentais falar dele as palavras vos faltam. Ele é como um louco, como um idiota. Ele é como uma alta montanha cujo cume não se pode ver, ou como um mar profundo cujo fundo não se pode alcançar. Brilhante por si mesma, a fonte perfeitamente límpida, dá uma explicação silenciosa.”.
Essas frases que eu li agora tem o sabor exato do zen. São tentativas de explicar algo que na verdade é inconcebível. “Brilhante por si mesma, a fonte perfeitamente límpida, dá uma explicação silenciosa”. Muitas histórias zen falam de coisas assim. Um mestre anda com um discípulo a beira de um regato e pergunta: “ouves o som do regato?” e o discípulo diz: “sim”. Então o mestre diz: “não tenho mais nada para te ensinar”. Essa é das grandes dificuldades do professor no zen. Como você vai explicar isto? Na realidade ele disse: ouça o regato. Não tem mais nada para dizer na verdade. O resto todo são palavras tentando apontar, mas não são a verdadeira experiência.
Keizan: “O que pratica o zazen se submerge diretamente no oceano do despertar e manifesta o corpo de todos os Buddhas. O espírito original, inconcebivelmente claro, se revela de pronto e a luz original ilumina tudo. No oceano não há aumento nem diminuição. As ondas não volvem nunca para trás, por isso os despertos têm aparecido neste mundo com o único objetivo de permitir realizar o despertar a todos os seres. Eles o transmitiram através do zazen, perfeitamente aprazível e a absorção do samadhi, o rei dos estados de concentração. Se praticais este samadhi ainda que seja só uma hora despertais diretamente o vosso espírito e compreendeis que essa é a porta principal do despertar. Os que desejam despertar o seu espírito devem abandonar os diversos conhecimentos, as interpretações complicadas, rechaçar os princípios profanos, inclusive os do budismo; cortar todos os sentimentos ilusórios e manifestar o seu verdadeiro espírito. Então se dissipam as nuvens das ilusões e brilha a pura luz da lua. Buddha disse: ‘aprender e pensar é permanecer diante da porta. Tomar a postura de zazen é entrar na própria casa e sentar-se em paz.’ Quão certo é isto!
Trecho da Palestra proferida por Meihô Genshô Sensei, Pirenópolis-GO, outubro/2018.