O silêncio é uma virtude. O próprio Buddha fez um de seus maiores sermões sem dizer uma única palavra, apenas levantando uma flor.
Existem nos Prajna Paramita Sutras, Sutras com 20 mil linhas e existe um Sutra no qual consta apenas uma única letra: “a”. E assim o Sutra começou e terminou.
Uma virtude que devemos cultivar é o silêncio, a cada vez que falamos podemos pensar “era necessário?”, “produziu bom karma?”, “produziu harmonia?”. Os postulantes e noviços recebem uma instrução: conversem o mínimo. Se alguém lhes ligar para falar, para fazer considerações, mesmo que seja sobre o Dharma devemos dizer: “fale com seu professor”, “siga uma linha hierárquica, não fale comigo”, “me telefone para desejar boas coisas, me telefone para cultivar amizade ou para ouvir, mas não para falar de qualquer pessoa”. Não faça julgamentos ou considerações.
Três dos dez preceitos maiores são sobre a fala: não dizer inverdades, não tentar elevar-se e não falar dos defeitos e falhas dos outros, dos Buddhas, dos mestres, da sangha, dos nossos próprios companheiros. Então o silêncio é antes de tudo uma virtude.
Na ordem da estrita observância dos monges beneditinos, na ordem dos trapistas, o silêncio só pode ser quebrado uma vez por semana e à frente do abade. Só então podem se ouvir notícias sobre o mundo. No resto do tempo há silêncio e contemplação.
Isto é muito semelhante ao treinamento que os monges zen-budistas devem fazer e talvez seja um dos treinamentos mais difíceis, porque em nossa própria vida precisamos julgar, estimar, precisamos tomar decisões sobre a quem dar ouvidos, a quem não dar. Não podemos viver em silêncio porque os outros ficariam ofendidos, então nosso silêncio tem que ser também cuidadoso, carinhoso e amoroso.
Se prestarmos atenção e formos cuidadosos com nossas palavras bom karma será gerado. E assim devemos cuidar também dos nossos ouvidos. O que ouvir e saber quando dizer: “este assunto não é para mim, estou fazendo uma prática de silêncio”.
É por isso que quando sentamos em zazen cortamos karma. Porque sentados em zazen nossas bocas ficam fechadas.
Teisho matinal proferido por Meihô Genshô Sensei, setembro de 2020.