(…) Diz-se que naquela época viajar do Japão para a China, pelo mar do Japão, era muito arriscado e apenas três em cada quatro pessoas sobreviviam à viagem, de modo que fazer essa viagem era a mesma coisa que arriscar a vida, tendo 25% de chance de morte.
Dōgen começa a visitar os monastérios no sul da China, que se localizavam ao longo do rio Zhe, na região agora conhecida como província de Zhejiang. Na maioria dos centros, os mestres usavam o sistema de koans da escola Rinzai.
Dōgen estudou essas perguntas, mas desapontou-se com a tendência dos professores em enfatizar frases e comportamentos ilógicos como expressão única do ensinamento zen, ignorando o significado das escrituras budistas. Um dos mestres chegou a lhe oferecer a transmissão do Dharma, que ele gentilmente recusou.
Depois de dois anos procurando um mestre, Dōgen estava desistindo, pensou em voltar para o Japão. Então um monge lhe falou de Tiāntóng Rujing, como o único mestre autêntico do caminho, então ele foi procurar por Rujing, que tinha na época 62 anos e vivia no templo de Qìngdé, na montanha de Tiāntóng, no distrito de Yinzhou, Ningbo, isso foi no verão de 1225. Rujing em japonês é Tendō Nyojo, o recitamos na nossa linhagem como o mestre que antecede Eihei Dōgen.
Mal eles se encontraram, eles se reconheceram. Diz Dogen: “Eu ofereci incenso e formalmente o reverenciei pela primeira vez meu falecido mestre, o velho Buda Tiantong, na sua sala de abade, no primeiro dia do quinto mês do primeiro ano de Baoqing, na grande Song; ele também me via pela primeira vez, nessa ocasião ele transmitiu o Dharma, dedo a dedo, face a face e me disse: “O portão do dharma da transmissão face a face , de Buddha a Buddha, de ancestral a ancestral é agora percebido’”.
Rujing deu a Dōgen permissão para ir aos seus aposentos para instrução a qualquer hora do dia ou da noite, fosse em roupão formal ou informal. Dōgen frequentemente fazia-lhe perguntas e registrou seus diálogos no “Registro da Era Baoqing”.
Rujing era sacerdote da escola Caodong de zen, Caodong futuramente se tornou a escola Sōtō, que é a nossa escola. Então nós somos descendentes destes mestres e estamos sentados aqui e agora, por causa desse encontro.
Rujing, embora tivesse herdado o manto de brocado do renomado mestre Daokai, jamais usou este ou qualquer outro manto, com estampas e bordados. Proibiu seus discípulos de serem íntimos de reis e ministros. Negava a visão convencional a seu tempo de que cada uma das cinco escolas tinha seu próprio ensinamento. Chamava o ensinamento que transmitia de “O Grande Caminho de Todos os Buddhas” e até mesmo discordava dos que chamavam de escola zen. Ele dizia: “Esse é o budismo!”, “ Esse é o verdadeiro budismo!”. (Continua…)
Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei, Florianópolis, 2019.