(…) Quantos habitantes tem Goiânia? Mais de um milhão e podemos fazer a propaganda que quisermos, quantas pessoas vocês acham que vão se reunir para ouvir isso que estamos falando agora? Se você colocar em dúvida a própria existência dos deuses, já muitas pessoas não vão querer escutar. Se você colocar em dúvida também a existência de espíritos e almas, cada vez menos gente vai vir. As pessoas estão procurando esperança, promessas e não clareza. Querem proteger seus eus com a promessa de que vão renascer em algum lugar especial ou que vão viver para sempre. Já no Zen as bengalas nas quais você se apoia serão tiradas, os tapetes sob seus pés serão arrancados e o professor vai dizer que ele não é um ser especial, que é igual a vocês e que Buddha morreu de diarreia, portanto está extinto e não adianta pedir nada a ele.
Não tem ninguém para quem você possa pedir coisas, você está contando com você mesmo. O professor é apenas alguém mais antigo, que já experimentou o caminho e pode lhe ajudar, mas não é divino e nem faz milagres.
Então como não temos nem a oferta de um guru, as pessoas não vêm. As pessoas não querem a verdade pura e simples, no fundo as pessoas gostariam de ser enganadas, mas quando você não oferece nem a fé como recurso as pessoas se sentem frustradas. Acontece que aqui não temos fé. O que Buddha disse foi “testem e experimentem”, vocês têm que sentar para meditar e investigar a si mesmos, usar o corpo e a mente como mecanismos de descoberta e não se apoiar em crenças. O Zen não é o ensinamento de crenças e sim de destruição delas.
Uma vez eu estava fazendo uma palestra numa faculdade de Filosofia e uma mulher perguntou: “mas o senhor não acredita em nada?” e eu lhe disse “o Zen não é o ensinamento de acreditar e sim de despertar”. (Continua)
Trecho da palestra proferida por Meihô Genshô Sensei, Goiânia, 20/02/2020.