Meu filho com 8 ou 9 anos de idade chegou em casa e disse: “mãe, acredita que meu amiguinho fulano pensa que um Deus criou o mundo?”. Esse comentário mostra que entre ele e o amiguinho já havia se aberto um espaço difícil de transpor. À medida que você percebe, compreende coisas, isso torna difícil a própria comunicação, mas nós temos que entender que é assim e não lutar contra isso, porque o caminho é sem volta. Depois que você conhece alguma coisa, não se pode dizer: “ah, agora volte à ignorância, ela é tão fácil, tão consoladora”. Depois que alguém conhece, não tem como voltar para a ignorância. Então, cada passo que você dá adiante torna a vida comum difícil para você. Mas isso é só no início, pois depois de um certo tempo é o contrário, tudo fica fácil. Você tem que saber que no início é assim, mas no fim não é.
Eu posso dizer: nunca tive tantos amigos, ou encontrei tantas pessoas maravilhosas como depois que iniciei o trabalho de monge. Então, não me sinto distanciado do mundo, embora no início do caminho, sim, claro, sentia-me. Porque no início do caminho eu era louco, eu era aquele que tinha enlouquecido aos olhos dos outros. Imagina um executivo que raspou a cabeça e virou monge.
Eu me lembro de um ex-funcionário de uma empresa que encontrei na rua e que me olhou de cima a baixo. Ele estava de terno e gravata e me olhou como quem perguntava: “o que aconteceu com você?”. Num dia comum de trabalho eu estava na rua vestido de calça jeans e tênis: “que desastre poderia ter acontecido com ele?”, ele se perguntava. Como poderia explicar a ele que me sinto mais rico assim do que com terno e gravata?
[Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]